Dicas de Salta e Jujuy (Purmamarca e Salinas Grandes)

Salta e Jujuy/ Gisele Teixeira

Parte deste cerro já existia há 75 milhões de anos!

Purmamarca e seu Cierro de los Siete Colores são um dos pontos altos da viagem para o Norte argentino e um dos cartões postais mais famosos da Quebrada de Humahuaca.

A Quebrada é um vale andino de 155 km de extensão, bem no meio da província de Jujuy. É uma paisagem única no mundo.

Além disso, os povos índios da região conservam crenças religiosas, festas, música e técnicas agrícolas muito antigas, que ajudaram a incluir este lugar como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, em 2003.

Foto Eduardo Baró

Purmamarca significa “Pueblo de la Tierra Virgen” em língua aimará, e o cerro, originado há 75 milhões de anos, é formado por sedimentos marinhos, lacustres e fluviais que foram se depositando na zona durante séculos. Cada cor vem de um período geológico diferente.

É o telão de fundo desta pequena cidade que encanta a gente logo de cara, uma localidade de origem pré-hispânica declarada Sítio Histórico Nacional e que cresceu ao redor da igreja Santa Rosa de Lima.

O melhor é observá-lo de manhã cedo, quando o sol começa a bater na montanha, e o povoado ainda está quase sem turistas, que chegam em massa a partir das 10h.

A cidade é toda em tons ocre, bem pequena, mas sempre foi passagem de viajantes, desde a época dos Incas.

Logo cedo começa e a se armar uma feirinha de artesanato infernal! Melhor não se deter aí no momento. Passear, seguir viagem, e deixar as compras para o final de tarde.

A igreja, no centro da pracinha, é toda feita adobe e cardon (uma espécie de cactus muito tradicional no Norte). Ao lado, outra jóia, um algarrobo de 700 anos. Acreditem.

A esquina mais clássica de Purmamarca

A igreja é de 1648!

Depois de observar o Cerro, minha sugestão é tomar um café com medialunas vendo a cidade se preparar para o dia e, em seguida, pegar o rumo para Salinas Grandes ( RN Nº 52, super sinalizada), outro lugar mágico, de trajeto deslumbrante.

SALINAS GRANDES

São 126 km pela Cuesta de Lipán até Abra de Potrerillo, onde estão as salinas – uma das maiores depressões da província, com mais de 12.000 hectares de sal a céu aberto. É o terceiro maior salar do mundo, depois do Salar de Uyuni, na Bolívia e do  Salar de Arizaro, em Salta. Filtro solar e óculos de sol!

Para chegar lá a gente sobe! E muito. O ponto mais alto é a 4.170 metros do nível do mar. Nesse lugar faz um frio de menos de 25 graus à noite e a água que brota chão está sempre congelada. E depois de subir a gente tem que descer e fazer tudo de novo para voltar. E dá-lhe vista linda.

Cuesta de Lipan

Para comparar: o Aconcágua, em Mendoza, tem 6.964m e é a montanha mais alta fora da Ásia.

Importante: não entrar com o carro nas salinas. A gente viu um que encalhou na meio e ficou sabendo de outro, que passou pelo mesmo problema dia seguinte.

Depois de voltar das Salinas, aí sim é hora das compras. Purmamarca é o lugar para comprar aguayos, mantas para a parede ou cama, artigos em pedra e palha, roupas de lã de ovelha e llama, pratarias.

A terceira maior salina do mundo

Esses panos coloridos custam 70 pesos o grande, tamanho casal, e 35 pesos o pequeno.

O ideal é dormir em Purmamarca para sentir a cidade depois que a maioria dos turistas vai embora. Foi o que a gente fez. Mas também dá para armar sede em Tilcara, mais adiante, e ir e voltar. Uma das coisas boas desta região é que todos os povoados são muito perto.

O hotel que a gente ficou era horrível, especialmente pelo dono, que não tem nenhum preparo para tratar com turistas, e pelo café da manhã, que era de chorar. Mas como não tinha nada mais disponível na cidade, não tivemos opção. Deixo o nome aqui para que ninguém se hospede lá: se chama hosteria Bebo Vilte. Não, não, não. 

Para fechar, deixo uma matéria sobre a Quebrada que saiu no Pagina 12 deste fim de semana, AQUI.

Dicas de Salta e Jujuy (Lagoas de Yala e Termas de Reyes)

Esse foi o mapa que usamos. Saímos de Jujuy e fomos até Humahuaca.

Para ir de Salta a Jujuy, rumo ao norte, há duas opções.

Uma é seguir pela Ruta 34, de 124 km, bem tranqüila. A outra é pela Ruta 9, de 94km todinhos de “cornisa”, de estrada bem sinuosa, nossa opção.

Em alguns trechos passa só um carro!

É um caminho para ser feito durante o dia, a no máximo 40km por hora. Não é para motoristas iniciantes, já que em alguns trechos a via não ultrapassa 4 metros para as duas mãos! Dá um medinho, mas vale a pena.

Fizemos uma parada estratégica em Jujuy para almoçar e caminhar um pouco pelo centro. Nosso plano inicial era dormir em Tilcara, mas no centro de turismo de Jujuy nos avisaram que todos os hotéis estavam lotados.

Optamos por dormir em Lozano, a 30km da capital. Por sorte, o nosso hotel – La Posta de Lozano – era ótimo.

Menos é mais

Cama e banho de primeira qualidade, num lugar lindo, com direito a lareira gigante no restaurante. Por 90 pesos dividimos um “truchon com salsa de limón y legumbres salteados”.

Essa paradinha não planejada nos permitiu descobrir uma pequena cidade vizinha chamada Yala, onde há dois lindos lagos, que estão há 2.100 metros acima do nível do mar, além de muitos rios de montanha, cheios de pedras, que secam no inverno e enchem no verão com a água do degelo das montanhas. E, por fim, ainda a região das termas.

Lagos de altura, novidade para mim

Por causa desses rios de montanha, a região é famosa pelas trutas, peixe da família do salmão que só dá em águas muito limpas, muito oxigenadas e com temperaturas de menos de 15 graus.

Rios que ficam cheios somente no verão, com a água do degelo das montanhas

O caminho para chegar aos lagos é todo sinuoso, com uma vegetacao exuberante. Termina numa região de termas de altura (Jujuy tem 400 fontes termais!), com águas que afloram a 56 graus e, dizem, são curativas por serem de baixa salinidade, sulfatadas e bicarbonadas.

Na piscina, lá em baixo, tem banho quentinho no inverno

Vegetação exuberante, bem diferente da Quebrada

Dicas de Salta e Jujuy (o caminho a Cafayate)

Abusou!

Um dos belos passeios a partir de Salta é ir a Cafayate, cidade que está a 1.700 metros acima do nível do mar e é conhecida pelos excelentes vinhos produzidos, em especial o Torrontés. Para chegar até lá, tomamos a rodovia 68, a “Ruta Del Vino”.

Cenário que a natureza levou anos preparando para a gente

De Salta até Cafayate são apenas 180 km,  em uma estrada totalmente asfaltada, bem sinalizada e com pouco trânsito, mas a gente levou seis horas!!!

Isto porque o caminho é alucinante, especialmente a região da Quebrada das Conchas ou Quebradas do Cafayate.  A gente parou para ver cada detalhe.

Este vale do rio Las Conchas possui formações rochosas vermelhas que seguem o leito do rio formando vales e desfiladeiros, e tem, ainda por cima, a Cordilheira dos Andes como pano de fundo.

Pão quentinho feito no forno à lenha

Além das paradas para fotos e explorações, paramos para lanchinhos (pão quente com café, oferta irresistível) e para “caçar” as llamas mas fotogênicas!

Nesse caminho, pelo menos dois pontos imperdíveis: a Garganta do Diabo e o Anfiteatro (com acústica impecável), além da própria Quebrada das Conchas.

Pra gente não esquecer do nosso real tamanho nesse planeta

A gente levou tanto tempo no caminho que quando chegou a Cafayate já estava na hora de voltar. Aviso aos navegantes: se não tivesse que voltar para um compromisso na cidade, teria dormido em Cafayate e seguido de lá para Cachi (passeio que a gente não fez porque não deu tempo e sei que é um dos mais lindos).

Cafayate é um pueblito, com uma pracinha no meio e muito vinho pra tomar! São pelo menos 25 bodegas, sendo que as mais conhecidas são El Esteco, Etchart, Fica Quara e Vasija Secreta. Algumas delas possuem restaurantes e outras são hotéis-spa, como o Patios de Cafayate. 

Essa região é para provar o Torrontés

Bodega El Esteco

Ideal para ficar no solzinho vendo a vida passar

A gente optou por comer uma coisa leve, tomar um sol na praça e depois zarpar para casa. Foi aí que  encontramos dois argentinos que estão viajando pela América do Sul numa kombi. Imagina se o Edu não parou “prum dedo de prosa”. Quem sabe alguém mais se inspira…

Detalhe para a biblioteca coberta acima da cabine do motorista

Na volta, a cor das rochas era assim como na foto abaixo. Não tem filtro, não tem nada. Fica a dica: deixem para fotografar as pedras na volta!

Esse é o caminho das conchas.Porque aqui um dia foi mar!

Tchau Cafayate!

Dicas de Salta y Jujuy (informacões gerais)

As províncias de Salta e Jujuy ficam bem ao noroeste da Argentina, pertinho da Cordilheira dos Andes. Antes de viajar não conseguia entender a diferença entre as duas. Agora, se tivesse que explicar rapidamente, diria que Salta é bem gaucha, espanhola, colonial. E Jujuy é bem índia, tierra, com influencia de Bolívia e Peru.

Mas isso a gente vai ver com calma nos posts posteriores. Vou publicar várias notas, organizadas da seguinte maneira:

1. Salta Capital

2. Cafayate

3. Salta/Jujuy

4. Lagunas de Yala e Termas de Reyes

5. Purmamarca/Salinas Grandes

6. Tilcara

7. Humauhaca

QUANTO TEMPO FICAR? Para fazer uma viagem tranquila, sugiro seis dias, partindo de duas bases. A primeira em Salta, de três dias, para conhecer a Capital,  ir a Cafayate e ir a Cachi. Depois, mais três para a Quebrada de Humahuaca, ficando em Tilcara  e saindo de lá um dia para Pumamarca+Grandes Salina, outro para a cidade de Humahuaca e o terceiro em Tilcara mesmo.

Pé na estrada!

ALUGUEL DE CARRO? Sim. Sim. Sim. Essa era outra dúvida que eu tinha antes de viajar e agora recomendo fortemente. Dá para fazer os passeios em van, mas não é a mesma coisa. A gente alugou carro direto no aeroporto de Salta, mas quem quiser economizar uma diária pode alugar na cidade, no segundo dia, já que no primeiro ele não é necessário.

Ótima cama, banho quentinho e aconchego

ONDE HOSPEDAR-SE? Como íamos gastar com carro, optamos em Salta por uma hospedagem mais barata, e com muito mais carinho. E nos demos super bem. Ficamos na casa da Josefina, um moradora da cidade que aluga quartos pelo Airbnb e que nos recebeu divinamente. A história é velha conhecida: um apartamento que fica grande depois que os filhos crescem e vao morar em outro lugar.

Como ela adora viajar e conhecer gente nova, abriu as portas de casa. A diária é de U$ 30 por quarto, com café da manhã. O apê tem um quarto de casal (com uma cama tao boa que nunca conseguimos levantar antes das 9h), um segundo com duas camas e um terceiro com beliche.

Todos compartem dois banheiros. Esta semana estávamos somente nós. Tomamos café da manha juntos (com medialunas, sucos, frios, doce de leite), conversamos e trocamos muito mais informacao que em um hotel. Diez puntos. Altamente recomendavel, a tres cuadras da praca 9 de Julho.  Reservas pelo email: joguerineau@hotmail.com

DICA: Se viajarem para o Norte em alta temporada, como nós, é IMPRESCINDÍVEL fazer reserva. Caso contrários vocês vão ficar mal acomodados, pagando caro.  Tanto em Salta quanto em Jujuy as oficinas de turismo são super eficientes e buscam hotel, na hora, para quem não tem alojamento. Maravilha! 

Sugestão para ficar em alto estilo em Salta: Hostal Solar de la Plaza, com diárias a partir de 700 pesos.

Sugestão de hotel no caminho de Salta para Jujuy: Posta de Lozano. A gente ficou lá porque no primeiro dia estava absolutamente tudo lotado em Pumamarca, e gostamos muito. Fica numa cidadezinha chamada Lozano, logo depois de Jujuy. Um hotel de primeira, com restaurante ótimo e com lareira, wifi, todas as comodidades. Diária a 280 pesos. Foi porque paramos por lá que conhecemos as Lagunas de Yala e as termas.

Sugestão de hotel em Pumamarca: a gente ficou num lugar horrível, que nem vou mencionar. Mas deixo a dica deste outro, Hotel Don Faustino, super bacana. Diárias a 300 pesos para casal.

Só no balancinho

Sugestão de hotel em Tilcara: a cidade tem várias pousadas bacanas. Deixo a dica do hostel Malka, super zen, que adoramos, com cabanas e varandas para matear e admirar a cidade sem pressa. Cabana para um casal a 23o pesos.

Bora?

La llama que llama

Com vocês, minha mais nova paixão:

Durante toda a nossa viagem pelo Norte da Argentina fomos acompanhados pelos Lhamas.

O lhama é um mamífero ruminante pertencente à família dos Camelídeos, da qual também fazem parte a alpaca, o guanaco e a vicunha, seus parentes próximos, além dos camelos e dromedários. Natural dos elevados planaltos andinos, e por isso mesmo capaz de suportar não só as baixas temperaturas que ocorrem naquela região, como também períodos de seca mais prolongados, é encontrado na Argentina, Chile, Peru e Bolívia.

Desde longa data os nativos dessas áreas montanhosas os consideram como “pau para toda obra”, pois além da lã, carne e couro que fornecem ao homem, também é aproveitado no transporte de cargas. Um macho da espécie é capaz de aguentar no lombo volumes com peso em torno 50 quilos.

Domesticado há cerca de 4.000 anos pelos povos incas que dominavam a cordilheira, esse animal foi largamente usado pelos espanhóis ao longo do século 16. Entre seus hábitos estranhos está o de cuspir uma secreção mal-cheirosa em outros animais – e até mesmo nos homens -, quando se sente incomodado.

Apesar de ser considerado dócil em virtude do comportamento sereno e sossegado que apresenta normalmente, o que se manifesta inclusive no seu caminhar vagaroso e cadenciado, ele se irrita com muita facilidade, tendo sido, por isso, considerado o oitavo animal mais irritável do mundo.

Melhor deixar quieto!

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Comercial que fez muito sucesso na Argentina na época da privatização das telecomunicações. Super engraçado!

Em breve, dicas de Salta e Jujuy

Garganta del Diablo: parada obrigatória entre Salta e Cafayate

Estamos no Norte da Argentina, por isso o blog anda sem atualização. Mas estou  anotando tudo para, no volta, compartilhar todas as dicas aqui. Até a semana que vem!

Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem

Mandem dicas de viagem de Salta, porfi!

Começa a nascer um super banco de dados de viagem!

Os principais blogueiros brasileiros do setor de turismo criaram uma comunidade chamada RBBV – Rede Brasileira de Blogueiros de Viagem, composta por aproximadamente 140 profissionais que publicam sobre diferentes temas diretamente ligados a esta área.

Inicialmente criada através da troca de experiências em uma comunidade restrita, a RBBV criou, recentemente, um site aberto ao público para aproximar leitores, mídia e entusiastas do setor.

O site funciona também como um diretório de blogueiros viajantes e posts publicados divididos por temas. Quer dizer, um grande índice com todos os posts dos blogs membros da RBBV divididos por área geográfica e, futuramente, por assunto.

As postagens podem ser acompanhadas também pelo Twitter e Facebook.

Nós, que vamos a Salta em julho, já estamos fuçando por lá e aguardamos dicas de viagem de quem já foi para o Norte Argentino.

Dicas de Lisboa: Fernando Pessoa

Nos encontramos (e desencontramos) com Fernando Pessoa diversas vezes em Lisboa.

Um dos encontros foi na na Fundação Calouste Gulbenkian, que estava com a uma exposição dedicada ao poeta e aos seus heterônimos,  chamada “Fernando Pessoa, plural como o universo”. Com curadoria de Carlos Felipe Moisés e Richard Zenith, a mostra tinha  raridades como a primeira edição do livro Mensagem, com uma dedicatória escrita pelo poeta, e o baú onde ele guardava seus texto. É a mesma exposição que esteve em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa. Ficamos horas por lá, desvendando cada cantinho.

O Edu e eu, descobrindo com Pessoa que também somos múltiplos

O desencontro foi na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. A gente tentou chegar lá duas vezes, e em nenhuma deu certo. Na primeira, nos perdemos. E na segunda o lugar estava fechado.

Inaugurada em novembro de 1993, a Casa Fernando Pessoa é um centro cultural destinado a homenagear o poeta e a sua memória, criado no local onde ele passou os seus últimos quinze anos de vida, em Campo de Ourique. Tem um auditório e uma biblioteca exclusivamente dedicada à poesia, além de uma parte do espólio de Pessoa (objetos e mobiliário que pertenceram ao poeta e que são atualmente patrimônio municipal).

No primeiro piso está o último quarto de Fernando Pessoa, reconstituído tal como era, com alguns móveis que lhe pertenceram e que o acompanharam ao longo de uma vida de mudanças de habitação – dezesseis no total. Neste quarto encontra-se a comoda onde Fernando Pessoa teria escrito, na noite de 8 de março de 1914, três dos seus poemas maiores: O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro, A Chuva Oblíqua, de Fernando Pessoa, e a Ode Triunfal, de Álvaro de Campos.

Quarto do poeta, tal como era antes

Mas como a vida é real e de viés, nos deu um presente. Outro encontro.

Vejam bem que casualidade, no último dia da viagem conhecemos a arquiteta italiana Daniela Ermano, que fez a reforma da casa de Pessoa, e que nos presentou com uma noite contando fatos inéditos da vida do poeta. Uma honra!

Ela também era amiga do escritor Antonio Tabucchi, um divulgador da obra de Fernando Pessoa, de quem foi tradutor e sobre quem escreveu. Tivemos acesso a um texto inédito de Tabucchi, que justo veio a falecer semana passada.

De origem italiana, o único livro que Tabucchi escreveu em português chama-se “Requiem”, uma obra que é “uma alucinação em torno de Fernando Pessoa” e simultaneamente uma declaração de amor a Portugal e, em particular, a Lisboa. Dirigida pela escritora Inês Pedrosa, a Casa Fernando Pessoa realizou, justamente hoje, uma maratona de leitura integral do “Requiem”.

Ficamos sabendo da morte dele num dos lugares mais lindos que já pisei. Cap de Creus, no norte da Espanha.

Um brinde à obra que nos deixou Tabucchi

Um terceiro encontro com Pessoa veio por meio da obra A máquina de fazer espanhóis,  romance de Valter Hugo Mãe, que narra a história de Antônio Jorge da Silva, um barbeiro de 84 anos que depois de perder a mulher passa a viver num asilo. Nesse lugar o narrador conhece o personagem Esteves, que diz ser o “Esteves” que habita os versos do poema “Tabacaria”, de Fernando Pessoa, a quem verdadeiramente conheceu no suposto estabelecimento. É o “Esteves sem metafísica”. Além desta referência, vale dizer que me emocionei diversas vezes nesta leitura, que é essencialmente sobre a velhice.

O Edu, sortudo, teve uma conversa mais íntima com o poeta. Para ler a íntegra do poema Tabacaria, clique AQUI.

Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. (do poema A Tabacaria)

Diário de bordo Lisboa (1): os inferninhos cool

A gente anda batendo ponto aqui

Anotem este endereço: Rua Nova do Carvalho com Rua do Alecrim. É praticamente a “nossa” esquina nesta viagem à Lisboa.

Fica no Cais do Sodré, um bairro em processo de renovação que e abriga quatro bares da cidade que a gente adorou: Pensão do Amor, Bar da Velha Senhora, Sol e Pesca e O Povo.

O endereço reparte espaço com antigos inferninhos (que ainda sobrevivem) com  prostitutas que costumavam receber marinheiros vindos de portos tão distantes quanto Oslo, Holanda e Jamaica.

Mas vamos por partes.

O mais bacana deles é o Pensão do Amor, que tem duas entradas. Quem chega pelo Alecrim dá de cara com uma sala com paredes vermelhas, abajures art deco, imagens antigas de senhoras seminuas posando em fotos timidamente eróticas. É onde funciona o bar.

Bajofondo

Seguindo, há uma sala vazia com um pequeno palco, que serve tanto para festas como para exposições. Mas a gente vai entrando e o ambiente vai ficando menos sofisticado e mais com cara de puteiro mesmo. Uma sala cheia de almofadas estilo leopardo, luz disco anos 80, e cano para pool dance.

Juntinho, uma livraria de obras eróticas e uma sex shop.

Descendo, num ambiente meio under todo pintado com pin-ups, a gente dá na rua Nova do Carvalho, onde estão os outros três novos espaços.

Dúvida...

Hora de atualizar o diário de bordo

No Sol e Pesca, a excelência são as conservas. O lugar funciona na antiga loja do Marreco, de artigos para pescaria, que ficou fechada por 20 anos. Na reabertura, eles mantiveram o máximo possível o astral original, com redes, anzóis, bóias.

Na mesa, tudo o que vocês puderem imaginar de peixes que cabem numa lata: sardinha, cavala, atum, bacalhau, enguias ou polvo, anchova petinga ou carapau… E as marcas tambem não são poucas. Matosinhos, Pinhais, Minerva, Conserveira de Lisboa, Tricana, Minor.

A idéia é provar várias!

Do ladinho está o Bar da Velha Senhora, que tem uma história que mescla ficção e realidade. Dizem que ali vivia uma menina que veio de Trás-os-Montes para Lisboa como criada e que, tornada “mulher voluptuosa e de curvas generosas”, viria a ser a “Madame do Cais do Sodré”.

No interior da casa, quase tudo obedece à temática do burlesco e ao imaginário do Cais do Sodré de inícios do século XX.

Entre petiscos e pratos “tipicamente locais”, quase todos brincam de forma mais ou menos inocente com o burlesco. “Punhetas de bacalhau” é um dos mais pedidos, por exemplo (os preços giram entre 2,5€ e 7€). Nas bebidas, os vinhos são a aposta mais forte.

Fado "moderno"

Por fim, O Povo, onde a gente ficou escutando fado (Claudia Duarte) sem se sentir numa casa portuguesa com certeza. É do mesmo dono de um espaço chamado Music Box. Petiscos locais e programação que reúne tradição e inovação. Por exemplo, há mensalmente um artista residente, um talento desconhecido vindo do mundo do fado. Caldo verde a 2 euros e todo mundo feliz no final da noite.

Dá para entender porque a gente não sai desse cantinho?

Cartas de Baires: Guias para decifrar – e desfrutar – a cidade

Segue abaixo a coluna Cartas de Buenos Aires, publicada hoje no Blog do Noblat.

 

Essas ilustrações di-vi-nas sao de Bebel Abreu

O escritor Julio Cortázar costumava dizer que até o final de seus dias queria ser um turista em Paris e que lhe aterrorizava a idéia de passar apurado frente à Notre Dame. Essa também é minha meta em relação a Buenos Aires: manter o olhar fresco e toda a semana descobrir um recanto novo.

Isso me fez desenvolver uma compulsão: guias e livros sobre a cidade. São mais de 30 na estante aqui de casa. E sempre que vejo alguma novidade, não resisto. Compro. Porque Buenos Aires gosta de brincar de esconde-esconde.

Minha seção mais gorda é dedicada aos roteiros a pé, já que a cidade é toda plana e tem muito de suas riquezas ao ar livre, grátis e para todos.

O xodó é o livro Buenos Aires Tiene Historia – Once itinerários guiados pela ciudad, dividido por bairros. A obra foi elaborada por três historiadores, que também são os criadores do Eternautas, Viajes Históricos, provavelmente a melhor empresa dedicada a realização de passeios pela cidade.

Outra boa aquisição foi La Buenos Aires Ajena, que traz a visão de estrangeiros sobre a capital argentina, de 1536 até os dias de hoje. A seleção é absolutamente plural e começa com Charles Darwin, passa por Marcel Duchamp e Albert Camus, e finaliza com José Saramago e Madonna.

As últimas descobertas, no entanto, são na área gastronômica. O livro Bistrôs de Buenos Aires, do chefe brasileiro Alex Herzog, que indica onde comer bem e barato, e o Qué. Cómo. Dónde. La guía de compras da também chefe, só que argentina, Narda Lepes.

Outra novidade é Buenos Aires com crianças – aventurinhas na terra do dulce de leche, da jornalista brasileira Fernanda Paraguassu (porque meus amigos andam muito férteis!).

Mas há uma infinidade de opções, como El libro de los libros, Guia das Livrarias, com mais de 365 possibilidades de lugares de compra de livros (AQUI, on line) , e a coleção Guias de Patrimônio Cultural, que disseca a cidade em oito volumes.

A biblioteca se completa com Endereços curiosos de Buenos Aires, de Ana Paula Corradini, e Buenos Aires Bizarro, do jornalista Daniel Riera – este último talvez o “menos útil” da estante, mas o que mais arranca risadas das visitas.

Nem todo mundo sabe, mas a capital argentina tem coisas estranhas como um especialista em reiki para cães, um cabeleireiro especial para jogadores de futebol, um monumento ao Chapeuzinho Vermelho, uma estátua da Liberdade em versão bonsai e uma organização de ventriloquistas.

Nenhum dos guias, porém, substitui a melhor forma de desvendar um novo lugar – caminhar sem rumo, perder-se, armar a própria rota.

Vem pra cá!

 

PS: As ilustrações da Bebel eu encontrei por acaso no Picasa, depois descobri que ela é criadora da Mandacaru Design, que fez um trabalho super bacana para o Guia Quatro Rodas da Abril.