Arquitetura e Bike

Descubrindo coisas novas em Puerto Madero

Fim de semana passado fui fazer o passeio Arts in Architecture Tour, oferecido pela Biking Buenos Aires.

Achei super bacana, um jeito diferente de conhecer a cidade, a partir de seus estilos arquitetônicos.

A gente sai de San Telmo, passa por Puerto Madero, pelo Centro, Avenida de Mayo, 9 de julho, Teatro Colon e depois vai voltando por Montserrat.

O passeio custa US$ 45 dólares, dura quatro horas, e inclui uma parada para lanche com empanadas. Por enquanto, é oferecido somente em inglês e espanhol, mas em breve eles terão também um guia em português.

As bicicletas são boas (todas vem com capacete) e, o que eu achei mais legal, eles tem luvas e mantas extras para desavisados que saem a passear de bike no frio sem o abrigo devido. Uma gentileza que não tem preço.

A empresa é tocada por dois americanos, o Will e o Robin, os dois super gente fina. O passeio não é para arquitetos e gente que saca do tema há anos. Por uma motivo simples: não dá tempo! É uma pincelada sobre arquitetura, uma oportunidade de os visitantes entenderem Buenos Aires a partir de um outro ponto de vista e uma isca para a gente ficar animada a conhecer mais sobre o tema.

Recentemente, a Bike Tours fez uma parceria com o Grafittimundo e está oferecendo o tour grafiteiro em bike. Delícia!

Outros passeios deles são: pelo Centro (Heart of the City), pelos parques (Parks & Plaza Signature Tour) e ainda um de todo o dia, por toda a cidade (The Buenos Aires Ultimate City Bicycle Tour). 

Tá tudo lá, no site, bem explicadinho! A se mexer que passa o frio!

Cartas de Baires: Medianeiras, conflito e solidão

Em cada janela também bate um coração

O filme argentino Medianeiras, de Gustavo Taretto, tem feito sucesso por onde passa e aborda “o tema” das grandes cidades, a solidão na era do amor virtual.

A história é contada por Martin, um fóbico buscando readaptar-se ao mundo, e Mariana, recém saída de um relacionamento. Ambos são vizinhos, vivem em Buenos Aires, na mesma rua, na mesma quadra, mas nunca se encontram.

A arquitetura aparece como terceiro protagonista, como vilão e como metáfora de isolamento e falta de comunicação.

Logo no início o personagem masculino diz o seguinte: “estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais de cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, o suicídio, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as contraturas, a inseguridade, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e da construção civil. Destes males, salvo o suicídio, padeço de todos”.

Os dois personagens moram em “monoambientes”, as nossas conhecidas quitinetes, e tomam a decisão de abrir janelas nas paredes laterais de seus apartamentos para ganhar um pouco mais de luz.

Isso, aqui na Argentina, não é permitido. De acordo com o Código Civil, as medianeiras (como são chamadas as paredes cegas que dão para o prédio vizinho) são intocáveis, pelo menos no papel. A justificativa é a garantia da privacidade. Janelas, somente na frente ou para o fundo.

Para cumprir a lei, muitos apartamentos viram grandes poços escuros. Pelo menos até que um morador se rebele e resolva abrir seu buraquinho. E o outro também. E o outro também. Assim a cidade vai ganhando paredões salpicados de pequenas janelas caóticas, cada um de um tamanho e formato.

No filme, as janelas representam uma mudança na situação dos personagens, uma luz. Na vida real não é bem assim. As medianeiras também são fonte de milhares de brigas judiciais.

O tema foi abordado em outro ótimo filme, o Homem ao Lado, de Mariano Cohn. Um vendedor de carros usados resolve abrir uma janela para o lado do vizinho. Só que este próximo vive em uma casa totalmente envidraçada, em La Plata, a única projetada por Le Corbusier na América Latina.

Nesse caso, a medianeira não separava apenas duas pessoas, e sim dois mundos, que entram em conflito ao tomarem consciência um do outros.

Bom tema para os profissionais reunidos este mês para a XIII Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, que poderiam lançar a campanha “Ventana para todos!”.

Uma janela é sempre símbolo de comunicação e se converteria em uma expressão a mais da democracia que os argentinos estão aprendendo a viver.

Leitura indicada: Rodolfo Livingston, Arquitectura y Autoritarismo 

O tiro no pé do Citibank argentino

O Ópera em seu príncipio. Jóia Art Deco.

A compra do Teatro Ópera pelo Citibank, e a conseqüente substituição do nome da tradicional casa simplesmente por “Citi” vem mobilizando os portenhos.

O banco defende que avançar sobre teatros e estádios que já possuem trajetória e nomes consagrados é uma tendência mundial de marketing de grandes empresas.

Foi o que aconteceu com o El Calderón, de Madri, que atualmente se chama Teatro Hägen Daazs, e o Kodak, de Hollywood, por exemplo.

Não é o que pensam os argentinos. Eles querem o teatro com o nome com o qual foi batizado em 1871.

A casa estreou com novo nome dia 26 de marco, quinta-feira passada. Ontem,segunda-feira, o grupo “Para que le devuelvan el nombre al Teatro Ópera”, no Facebook, já reunia 3.750 membros. Hoje subiu para 5.063.

Esse é o tema do Cartas de Buenos Aires, no Noblat. O texto na íntegra está AQUI.

Hoje, pelo menos três veículos de comunicação publicaram matéria sobre o tema, o que mostra que o movimento está tendo eco na cidade:  Buenos Aires Herald, Telám (a agencia do governo) e Ciudad1.

O Clarín publicou uma matéria no final de semana em que, sutilmente, compara esse movimento a nostalgia do tango. “Nostalgias de las cosas que han pasado”

Mas o que esperar desse jornal?

El libro de las lágrimas

Teatro Coliseo. Foto de Harry G. Olds

Essa foto faz parte de um livro meio triste, porque composto apenas de imagens de lugares que não existem mais.

Chama-se “Arquitecturas Ausentes. Obras notables demolidas en la ciudad de Buenos Aires”, de Ramón Gutiérrez, Patricia Méndez y Marcelo Kohan.

Dá para dar uma espiada AQUI. O título roubei de uma matéria que saiu no Página 12.