Dica de leitura: Una misma noche

Estou “agarrada” no livro Una misma noche, creio que ainda sem publicação no Brasil, escrito por Leopoldo Brizuela e vencedor do premio Alfaguara de Novela 2012, considerado um dos mais importantes no âmbito hispânico.

O livro é ótimo!

A sinopse é a seguinte: Uma madrugada de 2010 o escritor Leonardo Bazán é testemunha de um assalto em uma casa vizinha. Não é um roubo casual: o assalto é feito por um grupo organizado, com uma logística sofisticada e com o envolvimento de um patrulheiro da  Policía Científica.

Mas o que mais perturba Bazán é a memória de uma experiência similar – da qual ele também foi testemunha, junto a seus pais – ocorrida nesta mesma cada em 1976, logo após o início da ditadura militar na Argentina.

O trauma daquela noite parecia ter ficado no esquecimento, mas agora Barzán sente que precisa escrever para entender…e para salvar-se.

Como agiram exatamente ele e seus pais na época? Como julgar hoje estas reações? Como é possível que uma estrutura criminal, montada há décadas, ainda siga existindo e que as pessoas sigam reagindo da mesma maneira, como o mesmo medo?

É o segundo livro de Brizuela que leio. O primeiro – Lisboa, un melodrama – tinha tudo para me conquistar, mas confesso que demorei para engrenar e segue firme na minha mesa de luz. Este não dá para largar.

Piglia na TV Pública

É hoje e amanha.

A Biblioteca Nacional está organizando um ciclo de classes abertas sobre “Cenas da Novela Argentina”, a cargo do escritor e professore Ricardo Piglia. As conferencias serão gravadas e emitidas como um programa de televisão da TV Pública.  Na primeira, hoje, às 17h30, Piglia se falará sobre a tensão entre a ficção e a política em Amalia, de José Mármol, e Una excursión a los indios ranqueles, de Lucio V. Mansilla.

Será no Estúdio 1 da Televisión Pública, Av. Figueroa Alcorta 2977. Inscrição pelo email contacto@bn.gov.ar

Amanha, no mesmo horário e local, Piglia abordará a oralidade e a escrita na tradicao políticae, para isso, analisará Juan Moreira, de Eduardo Gutiérrez, e Silbidos de un vago, de Eugenio Cambaceres.

 

Cartas de Baires: Os cronópios saem em viagem!


“Y sueñan toda la noche que en la ciudad hay grandes fiestas y que ellos están invitados”

Hoje, quando vocês lerem esta coluna, já estarei longe, na terra de Fernando Pessoa. Mas sigo com o espanhol na mala.

Pretendo reler “Historias de Cronópios e de Famas“, um dos meus livros preferidos do autor argentino Julio Cortazar (1914-1984) e uma obra que completa 50 anos desde sua primeira publicação.

O texto foi escrito em Roma e Paris, entre 1952 e 1959, e editado somente em 1962.

Oferece uma espécie de reinvenção do mundo através de seus personagens: os “cronópios”, os “famas” e as “esperanças”, que alcançam sensibilidade e fascínio na medida em que traduzem a psicologia humana. É super cortaziano.

Os cronópios, segundo Cortázar, são seres verdes e úmidos, inteligentes, desprendidos, um pouco esquecidos, artísticos, poéticos, cantantes e desordenados. Gostam das cores azul e verde.

Eles cantam como as cigarras, indiferentes ao cotidiano, esquecem tudo, são atropelados, choram, perdem o que trazem nos bolsos e, quando saem em viagem, perdem o trem, chove a cântaros, levam coisas que não lhes servem. Mas não desanimam.

“Los cronopios no se desaniman porque creen firmemente que estas cosas les ocurren a todos, y a la hora de dormir se dicen unos a otros: La hermosa ciudad, la hermosísima ciudad. Y sueñan toda la noche que en la ciudad hay grandes fiestas y que ellos están invitados. Al otro día se levantan contentísimos, y así es como viajan los cronopios”.

Os famas, pelo contrário, são organizados e práticos, prudentes, fazem cálculos e embalsamam suas lembranças; quando fazem uma viagem, mandam alguém na frente para verificar os preços e a cor dos lençóis. Eles nunca falam sem ter certeza de que suas palavras são as apropriadas, temerosos de que as esperanças (sempre alertas) deslizem pelo ar e por uma palavra equivocada invadam o coração bondoso do cronópio.

As esperanças, um meio termo entre os dois, “são sedentárias e deixam-se viajar pelas coisas e pelos homens, e são como as estátuas, que é preciso ir vê-las, porque elas não vêm até nós”, ao contrário dos cronópios e famas que gostam de viajar.

As esperanças se irritam quando vêem os famas bailarem trégua ou catala, pois elas, tais como os cronópios, dançam espera.

Quem quiser escutar o próprio Cortazar lendo o texto em que os cronópios saem em viagem, é só entrar na página Audiovideoteca da Cidade de Buenos Aires. Um espaço virtual que é um tesouro, uma mescla de centro de produção audiovisual com arquivo, dedicado à preservação e difusão da cultura argentina contemporânea.

Na audioteca é possível escutar, por exemplo, a Rodolfo Walsh lendo o Capítulo 23 de Operação Massacre, ou a Juan Jose Saer recitando A Arte de Narrar. Entre os escritores contemporâneos, há entrevistas em vídeo com Fabián Casas ou Leopoldo Brizuela, para citar alguns. Coisa para manter a gente entretida por horas.

Um bom cronópio, como diz Cortazar, sempre esquece o essencial e mesmo assim tem que sentar em cima da mala para fechá-la! Mas nunca deixa em casa o caleidoscópio, que serve, entre outras coisas, para descobrir “os seus”. Uma espécie de “prova-cronopios”, que será, obviamente, testado entre os lisboetas.

 

Texto no Noblat, AQUI.


Cortázar ilustrado

“Me aterraría (¡no me ha sucedido, por suerte¡) pasar un día apurado frente a Notre-Dame y echarle apenas la ojeada sin intencionalidad que se dedica a los bancos o a las casas de renta. Quiero que la maravilla de la primera vez sea siempre la recompensa de mi mirada”.

Carta a los Jonquiéres. Pag.36

Último maldito

Foto Diário Perfil

O texto da coluna Cartas de Buenos Aires, publicado ontem, no blog do Noblat, é sobre a morte do escritor argentino Rodolfo Enrique Fogwill, no último sábado, aos 69 anos. Fogwill foi para a literatura argentina o que Maradona é para o futebol e Charly Garcia para o rock.

Um maldito indomável, provocador, irreverente, controverso, mas também dotado de um talento arrasador, divertido, e dono de uma vida que rende uma novela.

Sem ele, o país fica literariamente mais pobre e muito menos divertido.

O texto completo está AQUI.

Um dos textos mais famosos de Fogwill, Muchacha Punk,  está AQUI em versao integral.

Llegó carta de Julio

Y sobre todo camino y miro. Tengo que aprender a ver, todavía no sé.

Tenho uma nova paixão: o livro Cartas a los Jonquières, que reúne as 168 cartas que Julio Cortázar enviou ao pintor, poeta e amigo Eduardo Jonquières, entre fevereiro de 1950 e fevereiro de 1983. Quase todas inéditas!

As missivas equivalem a um diário dos primeiros anos do escritor em Paris e suas impressões sobre a capital francesa, sobre arte, sobre literatura, sobre a vida, enfim.

O que sentia quando estava escrevendo Rayuela?

Como foi o nascimento dos cronopios?

Está tudo nesse livro.

Estou a-lu-ci-na-da e com a cabeça cheia de idéias fotográficas. Como se não bastasse, Cortázar escreve a Jonquières também de outros lugares. Para citar alguns: Uganda, Áustria, Cuba, Suíça, Nicarágua, Índia, Antilhas, Dinamarca, Brasil (ainda não cheguei nessa parte!!), Kenia, Inglaterra, México.

Não sei se leio rápido ou leio devagar. São 600 páginas, mas já estou com medo que terminem.

Como vamos a Paris no prazo de um mês, degusto cada trechinho que ele fala sobre a cidade, mas também achei muito interessante as observações de Cortázar sobre a expectativa de uma viagem que faria a Londres.  A carta data de 3 de abril de 1952.

“Te escribo casi en vísperas de cruzar el Canal. Salgo el miércoles 9 y pasaré 6 días en Londres…Por supuesto que seis días no me darán gran cosa, pero si los camino, miro y olfateo bien es seguro que acabaré por tener una noción de la capital. Por supuesto que estoy de nuevo envuelto en el mismo clima de irrealidad que me asaltó a mi llegada a Roma, a Venecia y a Paris. No tengo conciencia clara de que – después de 20 años de deseos – dentro de pocos días estaré en Picadilly Circus. Tal vez allá, hablando inglés, mezclándome con la gente…

Es muy curioso que los grandes pasos los doy siempre como si en el fondo no se tratara de eso. Pienso que el deseo acumulado termina por quitar verdadera realidad a las cosas. ¿Tú crees que Penélope habrá gozado con Odiseo, a su vuelta? Yo tengo serias dudas. En realidad pudo llegar a amarlo, pero de nuevo, como a otro hombre…

Yo sé que deberé ver Londres, y que mi deseo nada tendrá de parecido con el goce real que me dé la ciudad. La gran maravilla (como es el caso de Paris) es descubrir que la realidad es distinta del deseo – porque es mejor.

Rayuela

rayuela2

“La rayuela se juega con una piedrita que hay que empujar con la punta del zapato. Ingredientes: una acera, una piedrita, un zapato y un bello dibujo con tiza, preferentemente de colores. En lo alto está el cielo, abajo está la tierra, es muy difícil llegar con la piedrita al cielo, casi siempre se calcula mal y la piedra sale del dibujo. Poco a poco, sin embargo, se va adquiriendo la habilidad necesaria para salvar las diferentes casillas, (rayuela caracol, rayuela rectangular, rayuela de fantasía, poco usada) y un día se aprende a salir de la tierra y remontar la piedrita hasta el cielo, hasta entrar en el cielo (…), lo malo es que justamente a esa altura, cuando casi nadie ha aprendido a remontar la piedrita hasta el cielo, se acaba de golpe la infancia y se cae en las novelas, en la angustia al divino cohete, en la especulación de otro cielo al que también hay que aprender a llegar. Y porque se ha salido de la infancia… se olvida que para llegar al cielo se necesitan como ingredientes, una piedrita y la punta de un zapato”. (Cortázar)

Cortázar

Em 26 de agosto de 1914 nascia Julio Cortázar. Para lembrar meu escritor favorito, favorito, favorito, seguem abaixo três histórias de Cronópios e Famas que estavam inéditas até o lançamento, este ano, de “Papeles Inesperados”. Para começar bem o dia.

julio_cortazar05_497_693

Vialidad

Un pobre cronopio va en su automóvil y al llegar a una esquina le fallan los frenos y choca contra otro auto. Un vigilante se acerca terriblemente y saca una libreta con tapas azules.

-¿No sabe manejar, usted? -grita el vigilante.

El cronopio lo mira un momento, y luego pregunta:

-¿Usted quién es?

El vigilante se queda duro, echa una ojeada a su uniforme como para convencerse de que no hay error.

-¿Cómo que quién soy? ¿No ve quién soy?

-Yo veo un uniforme de vigilante -explica el cronopio muy afligido-. Usted está dentro del uniforme pero el uniforme no me dice quién es usted.

El vigilante levanta la mano para pegarle, pero en la mano tiene la libreta y en la otra mano el lápiz, de manera que no le pega y se va adelante a copiar el número de la chapa. El cronopio está muy afligido y quisiera no haber chocado, porque ahora le seguirán haciendo preguntas y él no podrá contestarlas ya que no sabe quién se las hace y entre desconocidos uno no puede entenderse. (1952)

Almuerzos

En el restaurante de los cronopios pasan estas cosas, a saber que un fama pide con gran concentración un bife con papas fritas, y se queda deunapieza cuando el cronopio camarero le pregunta cuántas papas fritas quiere.

-¿Cómo cuántas? -vocifera el fama-. ¡Usted me trae papas fritas y se acabó, qué joder!

-Es que aquí las servimos de a siete, treinta y dos, o noventa y ocho -explica el cronopio.

El fama medita un momento, y el resultado de su meditación consiste en decirle al cronopio:

-Vea, mi amigo, váyase al carajo.

Para inmensa sorpresa del fama, el cronopio obedece instantáneamente, es decir que desaparece como si se lo hubiera bebido el viento. Por supuesto el fama no llegará a saber jamás dónde queda el tal carajo, y el cronopio probablemente tampoco, pero en todo caso el almuerzo dista de ser un éxito. (1952-1956)

1218‘Never stop the press’

Un fama trabajaba tanto en el ramo de la yerba mate que-no-le-quedaba-tiempo-

para-nada. Así este fama languidecía por momentos, y alzando-los-ojos-al-cielo exclamaba con frecuencia: “¡Cuán sufro! ¡Soy la víctima del trabajo, y aunque ejemplo de laboriosidad, mi-vida-es-un-martirio!”.

Enterado de su congoja, una esperanza que trabajaba de mecanógrafo en el despacho del fama se permitió dirigirse al fama, diciéndole así:

-Buenas salenas fama fama. Si usted incomunicado causa trabajo, yo solución bolsillo izquierdo saco ahora mismo.

El fama, con la amabilidad característica de su raza, frunció las cejas y estiró la mano. ¡Oh milagro! Entre sus dedos quedó enredado el mundo y el fama ya no tuvo motivos para quejarse de su suerte. Todas las mañanas venía la esperanza con una nueva ración de milagro y el fama, instalado en su sillón, recibía una declaración de guerra, y/o una declaración de paz, un buen crimen, una vista escogida del Tirol y/o de Bariloche y/o de Porto Alegre, una novedad en motores, un discurso, una foto de una actriz y/o de un actor, etc. Todo lo cual le costaba diez guitas, que no es mucha plata para comprarse el mundo.

Sábato faz 98 anos hoje

Otra tarde

Estoy alejándome de la vida de esta vida,

La miro con emoción como si ya estuviera fuera de mí.

O, más bien, como sentado en esas mesas de café que están en las veredas desde donde uno puede ver pasar la gente, y oírlos hablar. A veces nítidamente veo el caminar de hombres y mujeres. De pronto me sonríen.

Pero otras veces, confusamente, como detrás de una nube, o de mis lágrimas.

Soy injusto, siempre hay alguien conmigo.

Pero la vida se aleja.

(“España en los diarios de mi vejez, Ernesto Sábato)


23b_154Hoje é aniversário de 98 anos de Ernesto Sábato. O escritor vive recluso em sua casa, segundo matéria publicada no jornal Crítica Digital. Não é visto nem por seus vizinhos desde 2005.

“Sábato no sólo ha tenido conflictos con Dios, soportó, además, un problema en los ojos que le impide leer desde los años setenta y, sobre todo, la muerte de su hijo Jorge y la muerte de Matilde, la mujer de su vida. Por eso, quizás, dejó de pasear. El año 2005, la última vez que esos vecinos lo vieron. Ernesto Sábato se estacionó junto a su perro en la esquina de Lage y Alpacatal y por quince minutos tomó sol. No supieron más.”

Segundo as enfermeiras, “la leyenda se despierta antes de las ocho, toma un desayuno frugal y luego ve televisión hasta la hora de almuerzo. Come mucho zapallo. Luego duerme. Al rato se activa y exige que le lean libros por toda la tarde hasta que se duerme. El hombre se apaga a las nueve de la noche.”

Mais Sábato em http://www.geocities.com/leerasabato/