Cartas de Baires: as avós cientistas

 A coluna desta semana é dedicada ao pai, com quem não pude estar no último domingo. Como alguns personagens desta história ele também é médico, também é do bem e também é avô .  Só que graças à democracia pode colocar um neto no colo e contar-lhe uma história. Mais um neto, aliás.

Que venha Thomás!

Neto 106: Pablo Javier Gaona Miranda
Foto: Fernando Gens/Télam

Com 106 netos recuperados (o último na semana passada), as Avós da Praça de Maio celebrarão seus 35 anos de trabalho em 22 de outubro próximo – Dia Nacional do Direito à Identidade.

Mas o presente quem ganha é a gente. Micros documentários de três minutos, contando a vida de cada uma das crianças encontradas e uma série chamada “99,99% – La Ciencia de las Abuelas”, que resgata um lado menos conhecido destas senhoras: a busca pelos métodos científicos que permitiram comprovar estas identidades.

Quando as avós começaram a buscar os cerca de 500 bebês roubados dos pais durante a última ditadura militar, ainda na década de 1970, se depararam com um problema. Tinham nada mais que fotos e lembranças.

Mesmo que os encontrassem, não haveria como comprovar suas filiações verdadeiras, tendo em vista que os pais estavam mortos ou desaparecidos.

Então se perguntaram: existe um elemento constitutivo do sangue que só aparece em pessoas pertencentes à mesma família? Foram atrás de geneticistas. Bateram em muitas portas.

Somente no ano de 1982 passaram por 12 países, entre eles França, Alemanha e Inglaterra, até que chegaram Blood Center de Nova Iorque e à Associação Americana para o Avanço da Ciência em Washington.

Graças a eles, um ano depois, encontraram um método que permite chegar a um percentual de 99,9% de probabilidade, mediante análises específicas de sangue. Era criado neste momento o “índice de abuelidad”, que ficou famoso no mundo. É bom lembrar que ainda faltava um tempo para que os segredos dos genes e do DNA viessem à tona como agora.

Em dezembro de 1983, no primeiro dia hábil de democracia, as avós obtiveram uma ordem judicial para analisar o sangue de uma menina, Paula Eva Logares, que elas tinham certeza era filha de desaparecidos. Foi o primeiro caso comprovado. Nunca mais pararam.

Exigiram a exumação de cadáveres, ajudaram a criar a Equipe Argentina de Antropologia Forense, fundaram o Banco Nacional de Dados Genéticos e, principalmente, ajudaram na descoberta do DNA mitocondrial, tema sobre o qual podem dar até aulas!

Não há espaço para detalhes técnicos na coluna, mas está tudo aqui, no livro “Las abuelas y la genética”,que pode ser baixado gratuitamente AQUI.

O trabalho que elas fizeram foi fundamental não somente para a restituição de identidade como para o julgamento dos genocidas. E muito mais para os geneticistas, que admitem publicamente que sem as avós não teriam chegado tão longe.

Texto completo no Noblat. 

AQUI também há boas explicações científicas e um ótimo vídeo.

Em breve os quatro episódios de 99,99% poderão ser baixados AQUI.

Sobre ausências e presenças

Pero los dinosaurios van a desaparecer

A Argentina viveu ontem um dia histórico, com a condenação a 50 anos de prisão do ex presidente de facto Jorge Rafael Videla pela elaboração e execução de uma prática sistemática de roubo e ocultação de bebes e menores de idade durante a ditadura militar. Cerca de 400 crianças desapareceram entre 1976 a 1983.

É a primeira sentença da Justica argentina para estes crimes.

Além de Videla, outros repressores foram condenados, entre eles Reynaldo Bignone, Santiago Riveros, Antonio Vañek e Jorge “El Tigre” Acosta.

 “Es un día memorable para la Argentina y para todo el mundo civilizado que sabe que en un país donde no hay justicia, no puede haber democracia. Y acá la estamos haciendo entre todos”, disse Estela de Carlotto, presidenta de Abuelas de Plaza de Mayo.

Videla nunca se arrependeu do que fez. Semana passada, ao pronunciar suas últimas palavras antes da sentença, acusou às mulheres detidas de “usarem seus filhos embrionários como escudos”. E anunciou que aceitaria a condenação como um “ato de serviço e um aporte à paz da nação”.

Matéria completa do Página 12. 

Aproveito para divulgar neste post algumas fotos do projeto Ausências, de Gustavo Germano. 

Germano nasceu em Entre Rios, na Argentina. Teve seu irmão desaparecido durante a ditadura militar argentina, que durou oito anos. Radicado em Barcelona, o fotógrafo voltou 30 anos depois a sua cidade natal, e foi lá onde registrou a ausência dos muitos argentinos anônimos e de seus amigos e familiares.

Ausencias traz uma série de dípticos e entre cada imagem há uma lacuna temporal de cerca de 30 anos. Anos passados tanto para aqueles que desapareceram durante a ditadura militar, quanto para aqueles que ficaram à espera, sem possibilidade do encontro ou luto. A simplicidade das imagens vai de encontro à grandeza de sua mensagem.

Em cada díptico há uma imagem feita no início da ditadura. Nela, estão juntos irmãos, amigos e familiares. A segunda imagem, feita por Germano, retorna ao local da primeira, e os mesmos elementos a compõem, exceto os desaparecidos durante a ditadura.

Dica de leitura: Una misma noche

Estou “agarrada” no livro Una misma noche, creio que ainda sem publicação no Brasil, escrito por Leopoldo Brizuela e vencedor do premio Alfaguara de Novela 2012, considerado um dos mais importantes no âmbito hispânico.

O livro é ótimo!

A sinopse é a seguinte: Uma madrugada de 2010 o escritor Leonardo Bazán é testemunha de um assalto em uma casa vizinha. Não é um roubo casual: o assalto é feito por um grupo organizado, com uma logística sofisticada e com o envolvimento de um patrulheiro da  Policía Científica.

Mas o que mais perturba Bazán é a memória de uma experiência similar – da qual ele também foi testemunha, junto a seus pais – ocorrida nesta mesma cada em 1976, logo após o início da ditadura militar na Argentina.

O trauma daquela noite parecia ter ficado no esquecimento, mas agora Barzán sente que precisa escrever para entender…e para salvar-se.

Como agiram exatamente ele e seus pais na época? Como julgar hoje estas reações? Como é possível que uma estrutura criminal, montada há décadas, ainda siga existindo e que as pessoas sigam reagindo da mesma maneira, como o mesmo medo?

É o segundo livro de Brizuela que leio. O primeiro – Lisboa, un melodrama – tinha tudo para me conquistar, mas confesso que demorei para engrenar e segue firme na minha mesa de luz. Este não dá para largar.

Tango para integração

Ótima matéria publicada na edição deste mês da revista Quilombo: classes de tango na sede do Instituto Argentino para la Igualdad, Diversidad e Integración, que luta contra a discriminação a refugiados, imigrantes africanos e afrodescendentes na Argentina. A iniciativa é do professor Pablo Tamburini, que merece um “fuerte aplauso”. As aulas ocorrem todos os domingos, em San Juan 2491, de 17h a 19h. E a entrada é gratuita.

Leia a matéria completa AQUI. 

Festival de Cine e Direitos Humanos

Festival de Cine e Direitos Humanos

Começa quarta-feira, em Buenos Aires, o 14 Festiva de Cinema e Direitos Humanos.

A programação é extensa. Há uma competição de longas, com filmes de diferentes países, que parece que está ótima; de documentários nacionais e também de curtas e média metragens.

Uma dica é Cocaine Unwrapped, que mostra a história da coca: os agricultores da Colombia, os chamados “mulas” nas prisoes equatorianas, as fábricas de cocaína na selva boliviana, os traficantes das ruas do México e Baltimore…e os consumidores do ocidente.

Uma história de morte, devastação econômica e sofrimento. O documentário é inglês, da diretora Rachel Seifert

Também estou louca para ver Putos Peronistas, Cumbia de un Sentimiento, que conta a história da agremiação  Putos Peronistas de La Matanza. Faz um tempo escrevi coluna minha sobre este tema, chamada DO ARMÁRIO PARA A POLÍTICA, que pode ser lida AQUI. 

Há depois mostras temáticas (Ambiente, Povos Originários, Infância, Gênero, etc) e por regiões (Colômbia, Cuba, Venezuela, Oriente Médio). Há, por exemplo, quatro filmes sobre a chamada Primavera Árabe, com visões de diretores da Franca, Grécia, Tunísia e Jordânia.

Uma bela oportunidade de ver películas que nunca vão chegar ao circuito comercial. A programação está dividida entre as salas Incaa 0, Cosmos UBA, Auditório da Biblioteca do Congresso, Alianca Francesa e Centro Cultural de Espanha em Buenos Aires.

Programação completa AQUI. 

Cartas de Baires: Durar não é o mesmo que viver

A Argentina – para um grande jornal brasileiro um país “parado no tempo” avança a passos largos em temas muito contemporâneos.

Aprovou semana passada a chamada lei de “morte digna”, que permite ao paciente terminal ou em estado irreversível rejeitar tratamentos médicos que possam prolongar seu sofrimento ou “vida artificial”, conectada aos aparelhos.

Quem já viu uma pessoa querida sendo submetida a uma verdadeira tortura apenas para “durar” mais entende perfeitamente do que se está falando.

Aconteceu comigo em 2005, com a minha avó. Tive o privilégio – porque despedir-se de um ser querido o é – de estar com ela na véspera de sua morte, durante toda a noite, de mãos dadas.

Há dias ela não comia, por decisão própria, e isso foi causando uma série de falências em outros órgãos. Nessa reta final, ela não conseguia nem tomar água. Eu ficava molhando seus lábios com um paninho úmido para não ressecarem.

Sabíamos que ela tinha optado por não viver mais. Não estava doente, estava apenas cansada. Queria ir. Meu pai, que é médico, decidiu não interná-la. Seria cuidada em casa por ele e enfermeiras, rodeada do nosso amor.

Após esta noite de vigília, justo quando estava amanhecendo, ela abriu os olhos, olhou para o soro e me pediu: me desliga? Ela queria que eu tirasse a única coisa que a mantinha viva. Na hora me pareceu o mais certo a fazer, mas a gente não podia. Para nosso alívio, morreu naquela mesma manha.

A medida aprovada na Argentina permite isso e era pedida espacialmente por familiares de pessoas que se encontram em estado vegetativo. Játinha sido aprovado pela Câmara dos Deputados, e agora recebeu votação unânime do Senado.

A lei dá a palavra final ao paciente, que deve deixar por escrito uma autorização de suspensão destes cuidados (inclusive o soro). Um familiar próximo também está habilitado a autorizar a interrupção do tratamento, nos casos em que a pessoa hospitalizada não esteja consciente.

Mas a legislação também permite que o paciente ou o familiar possam voltar atrás, se mudarem de ideia e optarem pela continuidade do tratamento. A nova lei adverte, porém, que “fica expressamente proibida a prática de eutanásia” e inclui que nenhum profissional de saúde será punido por atender a vontade do paciente ou da orientação dada por um familiar da pessoa internada.

Este é apenas um dos temas considerados “delicados” que a Argentina resolveu encarar. Mas há outros. Além de ser um dos países pioneiros no matrimonio igualitário e na condenação de repressores da ditadura militar, aprovou esta semana uma lei que permite escolher livremente, sem intervenção médica ou judicial, a identidade sexual.

 O conceito de “desenvolvimento”, por sorte, não tem apenas o viés econômico. 

Leia coluna no NOBLAT, AQUI

Cartas de Baires: Heróis estaqueados

“El que estuvo al frío mucho tiempo quiere estar quieto, quedarse al frío temblando y dejarse enfriar hasta que todo termina de doler y se muere”

Los Pichiciegos – Rodolfo Fogwill

Os maus tratos sofridos pelos soldados argentinos durante a Guerra das Malvinas foi uma das facetas mais cruéis do conflito contra a Inglaterra.

Os depoimentos publicados pelos jornais de ontem, aos 30 anos do início da batalha, mostram que o pior inimigo das tropas revelou-se ser o próprio exército nacional, que tinha entre seus comandantes alguns repressores da Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA) e da Base Naval de Mar del Plata. Muitos deles fizeram na ilha o que já tinham feito no continente.

Além de passarem fome e frio, os soldados foram torturados das mais diversas maneiras. Entre os “castigos” aplicados às tropas (em 90% dos casos por roubarem comida) estava a chamada estaca.

Os militares colocavam quatro estacas no chão e prendiam os soldados ali, com os braços e pernas esticados, a uns dez centímetros da terra, durante horas, em um frio de 20 graus abaixo de zero. Os mais rebeldes recebiam uma granada na boca para não ter perigo de se mexerem.

Outras torturas incluíam submergir os soldados em poços de água fria ou obrigá-los a ficarem horas com os pés nestes lugares. A exposição a baixas temperaturas de maneira prolongada causava inchaço nas pernas e pés, o que os impedia de tirar as botinas. Muitos nunca mais voltaram a caminhar.

Outros foram obrigados a urinar sobre os companheiros ou a comer alimentos misturados aos próprios excrementos. Isso sem falar no repertório sádico militar “tradicional”, como saltar ao lado de campos minados.

Quando os soldados voltaram das Malvinas, tiveram que assinar uma declaração jurada de que não iam falar sobre a guerra porque esta era uma “questão de Estado”. Era a condição para serem liberados. Por isso os detalhes das torturas demoraram tanto em aparecer.

Um dos primeiros a abordar o tema foi o ex-soldado e jornalista Edgardo Esteban, autor do livro Iluminados pelo Fogo, de 1993, que mais tarde virou filme nas mãos do diretor Tristan Bauer.

Agora há dezenas de depoimentos que falam, ainda, da quantidade de comida encontrada nos galpões argentinos no final da guerra, após os soldados serem capturados pelos ingleses.

Depois de quase morrem de fome (alguns voltaram com 40 quilos), eles dormiram sobre montanhas de queijos, doces, laranjas, carne em lata e até uísque – comida que os militares argentinos se negaram ou foram incapazes de repartir entre os soldados.

O que os ex-combatentes querem agora é que as torturas a que foram submetidos sejam consideradas crimes contra a humanidade. E, portanto, imprescritíveis.

Querem o reconhecimento de que a Guerra das Malvinas foi parte de uma ditadura que seqüestrou, torturou e matou. E que os 74 dias de conflito não foram mais que a continuidade deste processo, inclusive com alguns protagonistas repetidos.

Texto no Noblat, AQUI. 

Cartas de Baires: O pequeno príncipe e o essencial, já não tão invisível para os olhos

Foto Juan Travnik

O aniversário da Guerra das Malvinas, que completa 30 anos em 2012, é “o” tema do ano na Argentina. Começou com uma piada e com duas boas notícias.

As risadas foram causadas pelo primeiro ministro britânico David Cameron, que chamou a Argentina de “potência colonialista”. Vindo de quem vem, é surreal. Dias depois, no mais moderno navio da Royal Navy, desembarca nas ilhas o príncipe William, herdeiro do trono britânico.

As boas notícias são a atitude negociadora argentina e a busca de aliados internacionais para forçar o diálogo sobre a soberania das Malvinas.E também a autorização, pela presidente Cristina Kirchner, da abertura do Informe Rattenbach, documento que investigou a responsabilidade das autoridades militares na guerra entre Argentina e Grã Bretanha.

O texto leva o sobrenome do general que liderou os trabalhos, a pedido do então presidente de facto Reynaldo Bignone. Começou a ser elaborado em dezembro de 1982 e, por suas conclusões, foi arquivado sob o selo de “Segredo de Estado”, o que o protegeria por 50 anos. A abertura do documento, agora, é histórica.

Fragmentos do informe, que já circulam há tempos pela internet mas não tinham o reconhecimento oficial, deixam claro o que todo mundo já sabe – que o país não estava preparado para uma guerra, que este não era o método para recuperar as ilhas, e que a improvisação foi total.

“Medidas irreflexivas e precipitadas”, “aventura militar”, “falha de coordenação entre comandos”, “falta de informação sobre o inimigo”. E por aí vai.

Os soldados argentinos não tinham nem a instrução básica de tiro e combate, não havia estoque de comida (muitos morreram por desnutrição), mais de 60% das bombas argentinas não explodiam porque não tinham o trem de fogo preparado para alvos navais.

Segundo dados oficiais argentinos, 649 soldados morreram em combate e 1.068 foram feridos. A Inglaterra reconhece 255 falecidos entre suas tropas e cerca de 700 feridos.

Para os interessados no assunto, deixo a dica de dois livros. Fantasmas de Malvinas Cruces: idas y vueltas de Malvinas, de FedericoLorenz, este último escrito em parceria com María Laura Guembe.

Eles compilaram 80 de quase 3 mil fotos inéditas da guerra que encontraram após investigação que contou com o apoio de ex-combatentes, familiares das vítimas e militares argentinos. As imagens são impressionantes.

Para muitos jovens, além de estar em guerra, era a primeira vez que viam o mar, que voavam de avião, que passavam frio. O que puderam, registraram.

Lorenz diz que o melhor lugar para entender o conflito é o Museu Imperial da Guerra, em Londres. Muitas das cartas e fotos enviadas pelos oficiais argentinos, pelo menos as que não foram picoteadas pelos “isleños”, foram roubadas pelos ingleses. Histórica tradição britânica.

Texto no blog do Noblat. 

Algumas fotos estao no vídeo abaixo. Não tem áudio.

Dica de filme: Moacir

Sucesso no Bafici

Sucesso no Bafici

Em fevereiro estréia Moacir, um longa-metragem do diretor argentino Tomas Lipgot, que mostra a vida de um brasileiro radicado há 25 anos na Argentina.
Sem trabalho, Moacir foi diagnosticado com esquizofrenia paranóide no hospital Borda, onde passou grande parte de sua via portenha.
Foi lá que conheceu Lipgot, que trabalhava em outro documentário. Dessa amizade nasceu a película, que fala um pouco sobre o “poder curativo da música” e aborda a história desse personagem após sua saída do hospital, aos 65 anos.
Moacir deixa para trás os fantasmas gravando um disco com cancões próprias que, como ele, estiveram perdidas por muitos anos.
Lipgot é um jovem diretor de 32 anos que aborda constantemente em sua obra a questão da reclusão, do aprisionamento em que as pessoas vivem. Ele traz no seu currículo 10 curtas e “Moacir” é seu quarto longa-metragem, que foi aclamado no Bacifi, festival de cinema independente em Buenos Aires.
A conferir!
Entrevista com o diretor, AQUI. 

Imagens que comprovam os voôs da morte

Foto Clarin

A Argentina segue desvelando os horrores cometidos durante a ditadura militar.

A descoberta, esta semana, de restos humanos em fossas, e a publicação de fotos inéditas das vítimas dos chamados vôos da morte, agregam novos elementos ao cenário do período de repressão no qual os militares não somente cometeram delitos contra a humanidade como também trataram de escondê-los.

Em um edifício militar da província de Tucumán foram localizados restos de pelo menos 15 pessoas enterradas em uma fossa comum. Vários deles estavam com as mãos atadas e em alguns de detectou a “presença de projéteis de armas de fogo”. Na fossa, que funcionou como lugar de execução, a presença de pneus e de pessoas carbonizadas mostra que eles também eram queimados ali.

Mapa de correntes marítimas

Paralelamente, a Comissão Interamericana de Direitos  Humanos divulgou ontem, pela primeira vez, 130 imagens inéditas de vítimas dos denominados “voos da morte”, denominação dos vôos realizados durante a ditadura militar (1976-83) sobre o rio da Prata e o mar para jogar nas águas os prisioneiros, ainda vivos, desde os aviões. Os corpos ficavam à deriva e, arrastados por correntes marítimas, encalhavam no Uruguai. As fotos foram tomadas pela polícia  marítima de lá, na época.

As pastas contem imagens impressionantes e estão organizadas, aparentemente, por pessoa, com mais de uma foto em cada caso. Além do estado dos corpos, mostram algumas características dos processos a que foram submetidas. As fotografias mostram pessoas nuas, a maioria com as mãos e os pés amarrados com cordas. Isso era comum para evitar distúrbios dentro dos aviões, além de impedir que pudessem nadar em caso de sobrevivência. Os corpos também exibem marcas de torturas, como fraturas ósseas múltiplas no tórax e membros, além de crânios esfacelados. Os cadáveres exibem marcas de choques elétricos.

O material também contém mapas indicando onde os corpos foram encontrados. A maior parte dos cadáveres apareceram nas praias entre as cidades de Colônia (sobre o rio da Prata) e La Paloma (no oceano Atlântico).

Estimativa indicam que a ditadura argentina assassinou 30 mil civis. Destes, 5 mil teriam passado pela ESMA. Menos de 200 sobreviveram.

Fragmento de relatório detalhado

 

As matérias completas sobre o temas estão abaixo, em diferentes jornais:

PAGINA 12

LA NACIÓN

CLARIN