100 x 100 argentino

Inaugura amanha, no Centro Cultural Espanha Buenos Aires (sede Parana) uma exposição que reúne 100 retratos gráficos de personalidades argentinas dos últimos 100 anos. Os trabalhos sao resultado da cátedra Salomone de Desenho Gráfico da FADU/UBA.

O CCEBA fica na Paraná 1159.

 

 

Cartas de Baires: Fileteado, a tipografia da cidade

“Primo” dos textos dos caminhões brasileiros

Antigo, popular e marginal como o tango, a técnica pictórica conhecida como  fileteado portenho é uma das melhores traduções de Buenos Aires. Chegou com os imigrantes, foi proibido por razões de segurança, sobreviveu de teimoso e hoje vive uma fase de redescoberta.

Grosso modo, pode-se dizer que o fileteado é um parente sofisticado das decorações das carrocerias dos caminhões brasileiros. Também começou nos carros e com frases cunhadas na sabedoria popular.

Infelizmente há poucos registros oficiais do início desse trabalho. Entre seus pioneiros estão três italianos – Cecilio Pascarella, Vicente Brunetti e Salvador Venturo – que começaram a pintar com cores as laterais as carroças que eram usadas para entregar produtos, no final do século XIX (e que até então eram cinza) e separá-las com uma linha fina de cor mais intensa ou constante, o que chamamos hoje de filete. Depois, passaram para os carros e ônibus.

A partir daí foi-se criando o repertório específico de desenhos que caracterizam o fileteado: flores, folhas, pássaros, fitas com o azul e branco da bandeira Argentina, bolas, dragões e ainda linhas retas e curvas de diferentes espessuras que vão se mesclando com cenas do campo e personagens populares, como a Virgem de Luján e Carlos Gardel.

Na década de 1970, o filete foi proibido por lei porque podia distrair os motoristas. E quase desapareceu. Mas foi justamente esta proibição que levou os filetes para outros suportes.

Diferente do que aconteceu no Brasil, na Argentina a técnica ganhou novos usos. Saiu dos veículos para os cavaletes dos ateliês de arte. Hoje se vê o fileteado por todo o lado, inclusive em roupas e, ultimamente, até na pele. A tatuagem com filete está na super na moda.

A moda agora é a tatoo fileteada!

O Iº Encontro de Fileteadores portenhos, realizado neste final de semana, no bairro de Mataderos, reuniu mais de 200 profissionais e, mesmo ignorado pela imprensa local, mostra que há um movimento para que esta arte não desapareça.

Participaram do evento grandes maestros, com mais de 50 anos de filete, e também jovens de 18 anos, que começam a fazer seus primeiros desenhos. Surpresa: muitos deles saídos da Escola de Belas Artes, que fizeram uma opção por uma técnica decorativa tradicionalmente popular.

Entre os artistas mais reconhecidos nesta técnica estão o polonês León Untroib (morto em 1994). Da geração atual, Martiniano Arce e, mais recentemente, Alfredo Genovese, que está fazendo uma revolução no uso comercial do filete, trabalhando para grandes marcas, como Nike e Coca-Cola.

A tradição gráfica do filete sobrevive e renasce, como fez o tango. Agora falta somente que se revogue o decreto que a proibiu de ser usada nos ônibus, para que volte a adornar com humor e  melancolia a cidade que a inspira.

Texto no Noblat, AQUI. 

Adoro esse!

Dica para Brasília: Portinari bordado!

O fio da meada , o avesso e o círculo do bastidor

Sempre que faco uma lista das coisas mais lindas que já vi  – ou fiz – na vida, me vem à mente os bordados do grupo Matizes Dumont e as tardes que passei bordando  com estas mulheres, entre linhas e cores. Recém tinha me separado, e usar os domingos para bordar e pensar na vida foi muito sanador.

O grupo foi criado inicialmente por seis artistas de uma mesma família de Pirapora, Minas Gerais: a mãe Antônia Zulma Diniz Dumont e cinco filhos: Ângela, Marilu, Martha, Sávia e Demóstenes. Depois, o círculo em sua vitalidade ampliou-se com a participação da terceira geração (Luana, Tainah, Maria Helena, Paula e Luíza).

Elas bordam a vida, o país e, principalmente, histórias. 

Começaram a ilustrar livros em 1988 e, de lá para cá, já somaram mais de 20 obras, que incluem autores como Jorge Amado, Ziraldo, Manoel de Barros, Thiago de Mello, Rubem Alves, Carlos Brandão, Tetê Catalão,

A última delas: bordados a partir dos estudos de Candido Portinari para os painéis Guerra e Paz. Estarão em exposição no Museu Nacional do Conjunto Cultural da  República a partir de 28 de junho.

Im-per-dí-vel!

Comedoria popular: para matar as saudades do Recife

Delícia!

Este fim de semana recebi dois presentes que são uma delícia.

Primeiro, conheci a Renata Gamelo, uma pernambucana de carteirinha, daquelas que falam “pra tu”, super agitada, conversadora. Está em Buenos Aires pesquisando o design local.

Como se uma nova amizade não fosse regalo suficiente para um dia, ela me deu um livro chamado Comedoria Popular – Receitas, Engenhos e Fazendas de Pernambuco, de Ana Cláudia Frazão.

A obra esmiúça a culinária de um dos mais importantes capítulos da história brasileira, o Ciclo Açucareiro, em especial o da cultura gastronômica dos engenhos pernambucanos e as particularidades dos cardápios das fazendas, com algumas das receitas que fazem parte do Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado.

A primeira parte do livro apresenta dez engenhos e a peculiaridade gastronômica de cada um. A segunda, traz as receitas. Para a gente, que está longe, poder matar as saudades de um camarão ao molho de coco e queijo coalho, por exemplo (tem tudo no Bairro Chino, sem desculpas!).

O livro traz ainda a escala cromática das receitas constando o valor nutricional de cada preparação, testadas em uma cozinha experimental e ilustradas.

Este é o segundo livro de Ana Paula, que lançou em 2008 o “Comedoria Popular – receitas, feiras e mercados do Recife”, que já vendeu mais de 8 mil exemplares.

Deixo vocês com uma receita perfeita para o inverno que está chegando: creme de macaxeira com charque. Mais fácil impossível.

CREME DE MACAXEIRA COM CHARQUE

½ kg Macaxeira
½ kg Charque
1 ½  cebola
2 dentes de alho
1 pitada salsinha
1 pitada sal

Descasque a macaxeira e cozinhe com uma cebola inteira e o 1 dente de alho. Bata no liquidificador  a macaxeira, com a própria água e a cebola e o alho. Reserve.
Corte em pedacinhos a gordura da charque e leva ao fogo. O restante da carne escalda para tirar o sal e cozinhe na pressão por 15 minutos. Depois desfia a carne e frita na gordura da própria carne, com a ½ cebola e mais um dente de alho.
Misture o creme de macaxeira com a charque e leve ao fogo  mexendo por 15 minutos. Adicione a salsinha para finalizar.

Quer saber de onde vem essa receita? O mapa segue abaixo:

PS: O Edu já está lá no fogão!

Cartas de Baires: Mecenas modernos

Cada vez mais "famosos" aderem ao financiamento coletivo

Vocês já ouviram falar em crowdfunding ou financiamento coletivo de projetos? Aqui na Argentina a novidade pegou de vez e começa a atrair celebridades.

A premissa é relativamente simples: pessoas com idéias, mas sem dinheiro para viabilizá-las, apresentam seus projetos na internet. Quem acredita na proposta paga para ver. Isto é, banca financeiramente a iniciativa por meio de uma doação. E recebe em troca uma “recompensa”.

Há poucos dias um famoso ator e humorista argentino, Alfredo Casero, apostou neste sistema para financiar o projeto Cha3DMubi para produção de um filme.

Casero ficou muito conhecido pela série cult Cha Cha Cha, de humor surreal, que completou cinco temporadas na década de 1990 e deixou uma legião gigantesca de fãs pelo país.

Desta vez, precisa arrecadar 22 mil dólares em 55 dias. Até agora, 282 “produtores” já se associaram ao projeto, uma espécie de “Cha Cha Cha Return”, que alcançou 51% da meta em 31 dias.

No financiamento coletivo, em geral as contribuições são bem pequenas, e o que conta é o volume e a recompensa, que deve ser atrativa o suficiente para que haja algum interessado.

No projeto de Casero, as doações iniciam em 5 e 12 dólares, o valor de um postal ou de uma entrada, mas podem chegar até 2 mil dólares. Nesse caso o doador tem, além de um par de entradas, um jantar com o humorista, nomes nos créditos do filme como produtor executivo, entrada para a avant première, acesso aos camarins, e ainda duas camisetas oficiais do filme.

Entre os famosos que aderiram à novidade está também a artista plástica Marta Minujin, que arrecadou quase 3 mil dólares para a produção de uma edição limitada de 100 garrafas de vinhos da bodega Catena com rótulos feitos por ela.

O financiamento coletivo funciona graças à interação social na web, em redes como Twitter e Facebook, e é super democrático. Qualquer pessoa pode tentar vender seu projeto. No caso do Ideame, que funciona na Argentina, Brasil, Chile e México a iniciativa já financiou, desde 2011, mais de 700 projetos.

Se o interessado não alcança o valor necessário, o dinheiro é devolvido a todo mundo que participou.

Deixo vocês com Casero e com um dos personagens dele que eu mais gosto, o Batman, numa convenção de Batmans do Mercosul. Detalhe para o Batman uruguaio que está sempre com o mate e a cuia, o paraguaio que reclama da capa quente, o brasileiro com calção estampado dançando a marcha peronista. Só escracho.

 

Texto no Noblat, AQUI. 

Recomendacoes para um projeto exitoso, AQUI.

 

 

Cartas de Baires: Morre a única argentina retratada por Andy Warhol

Com a igreja, com Alfonsín, com Menem e com Duhalde; Amalita consolidou sua fortuna com o amparo do poder (fotos pagina 12).

 

O tamanho do nome dá uma pista de onde vem a fortuna da mulher mais rica da Argentina, falecida sábado, aos 90 anos: Maria Amalia Sara Lacroze Reyes Oribe de Fortabat.

E as imagens dela, publicadas na imprensa, uma mostra de como esta fortuna foi engordando ao longo dos anos.

“Amalita” com a igreja durante a ditadura e íntima dos presidentes Ricardo Alfonsín, Eduardo Duahalde e Carlos Menem. Este último a nomeou “embaixadora itinerante”, cargo eliminado por Kirchner ao assumir o poder.

Filha de um aristocrata argentino, alfabetizada em frances e inglês antes do castelhano, Amalia começou a construir seu império em 10 de janeiro de 1976 quando seu esposo, Alfredo Fortabat, morreu de um derrame cerebral aos 81 anos. Com 54 anos, recebeu uma das maiores heranças já vistas pelo país.

Segundo o livro Os Donos da Argentina, do jornalista Luis Majul, entre os bens estariam 23 campos com 170 mil cabeças de gado­­; cinco empresas de cimento; um edifício inteiro na avenida Libertador (uma das mais caras de Buenos Aires); uma casa em Mar del Plata; um duplex no Hotel Pierre, em Nova Iorque; dois aviões, um helicóptero, um barco e diversos automóveis.

Além da administração de cinco mil empregados, e da cadeira de diretora da empresa de cimentos Loma Negra (a maior do país, mais tarde vendida para a Camargo Correia), na qual sentaria apenas cinco dias depois da morte do marido.

Em 1980, a viúva tinha quadruplicado seu patrimônio, estimado recentemente pela revista América Economia em U$S 902 milhões.

Fortabat teve papel importante no mercado de arte e deixou para Buenos Aires um museu ainda pouco visitado, chamado Coleção de Arte Amalia Lacroze de Fortabat, em Puerto Madero. Projetado por Rafael Viñoly, o prédio por si só já vale a visita.

Na coleção de mais de 200 peças estão obras de Salvador Dalí, Rodin, Klimt, Chagall, Miró, Xul Solar e Antonio Berni. E dois xodós, “Julieta e sua Aia” (1836), do pintor inglês William Turner, arrematado por US$ 7 milhões, e o “O Censo em Belém”, de Peter Brueghel.

Outro óleo que atrai olhares é o que retrata a própria Amalia vista pela lente colorida e pop de Andy Warhol. Foi a única argentina retratada pelo americano que, dizem, por estar em dificuldades econômicas começou a fazer, por encomenda, séries de retratos ao “estilo Marilyn”.

A divisão da herança deve render muita confusão. Dizem que Fortabat, que tem apenas uma filha, fez e refez seu testamento diversas vezes e que teria ainda cerca de 4 mil obras de arte espalhadas por suas varias casas na Argentina e Estados Unidos. Uma herança que dava outro museu.

Texto no Noblat, AQUI. 

Cartas de Baires: Gente pequena

Para ver mais fotos: : http://little-people.blogspot.com/

Não sei o que me chocou mais, se a primeira notícia ou a segunda.

A primeira é a seguinte: os corpos de duas senhoras gêmeas, de 73 anos, Susana Elena e Beatriz Aida Laguardia, foram encontrados mumificados na semana passada em um apartamento da Recoleta, um dos bairros mais sofisticados de Buenos Aires.

A principal suspeita da perícia é que ambas tenham morrido no dia 5 agosto do ano passado, após intoxicação por monóxido de carbono. Estavam com roupas de inverno e tinham contas deste dia sobre a mesa. Todos os demais impostos se acumulavam embaixo da porta. Não havia sinais de violência.

As irmãs só foram descobertas agora, quando o porteiro do edifico chamou as autoridades em função de um forte odor que saía do quarto andar, acrescentando que as duas vizinhas não eram vistas há muito tempo. O apartamento, avaliado em US$ 500 mil, ocupava todo o piso.

De acordo com o jornal La Nación, os vizinhos reclamavam há dias do cheiro, e todos achavam que elas estavam mortas, mas ninguém se dignou a fazer a denúncia. Ninguém queria se “envolver”.

Parece que contribuiu para isso o fato de as irmãs serem pouco sociáveis. Iam apenas à igreja e ao supermercado. Ninguém sabe descrevê-las fisicamente, nem o jornaleiro da esquina.

A exposição ao monóxido de carbono, gás inflamável e inodoro, por mais de uma hora leva à morte rápida. Intoxicações desta natureza não são raras de acontecer em países que usam muita calefação.

Mas a segunda notícia para mim é mais cruel: os vizinhos não chamaram a polícia, mas entraram com uma ação civil, em novembro, três meses depois da morte das duas, pelo atraso no pagamento do condomínio.

Não se dignaram a bater na porta para ver o que passava com o vizinho do lado, que morava ali há mais de 20 anos, mas não perderam tempo para cobrar o dinheiro que elas deviam. “O que passa em cada apartamento é questão de cada um. Sou responsável apenas pelos espaços comuns”, defendeu-se o síndico.

Essa situação me remeteu ao blog Little People. Nele, o artista plástico inglês Slinkachu publica fotos de pessoas em miniaturas espalhadas por metrópoles como Londres, Manchester, Barcelona e Amsterdam.

Ao reproduzir situações cotidianas em uma perspectiva reduzida, aborda temas como o medo e a solidão nas grandes cidades. Um trabalho que nos dá conta da nossa pequenez. Que, em alguns casos, é também de alma.

Vale a pena espiar: http://little-people.blogspot.com/

Texto integral no Noblat, AQUI. 

Beatriz Milhazes no Malba

Uma das artistas das mais valorizadas do país, Beatriz Milhazes antecipou ontem à jornalista Monica Bergamo, da Folha de São Paulo, que prepara mostra “monumental”em Buenos Aires. Ela deve apresentar seu trabalho em setembro, no Malba.

A expectativa é que venham para cá 70 obras eleitas por Paulo Herkenhoff para a primeira individual portenha da artista carioca.

A última grande exposição de Milhazes foi em 2008, com 32 pecas na Pinacoteca do Estado de SP.  Naquele ano, seu quadro “O Mágico” foi leiloado por R$ 1,7 milhão na Sotheby’s de NY – um recorde entre artistas brasileiros vivos.

Em 2011, perdeu o posto para Adriana Varejão e sua “Parede com Incisões ala Fontana II”, de R$ 2,9 milhões. Mas se superou em junho passado, com “O Moderno”, vendido por R$ 1,8 milhão.

Para quem não a conhece, Milhazes faz parte de um grupo de artistas chamados de “Geração80”, composto por artistas plásticos que conquistaram espaço no mercado depois da exposição que aconteceu no Parque Lage, no Rio de Janeiro, em meados de 1980. O elemento principal de suas obras é a diversidade de cores e formas geométricas em diferentes variações, sejam essas em colagens, pinturas e sobreposições.

Mares do Sul

Cartas de Baires: arte e paixão no subsolo

Siqueiros e Blanca

A Plaza de Mayo tem um novo atrativo, o Museu do Bicentenário e, dentro dele, uma jóia que ficou mais de um século abandonada: o mural Exercício Plástico, do mexicano David A. Siqueiros (1896-1974).

A obra tem uma história que mistura arte, amor, traição, dinheiro, poder.

Tudo começou em 1933 quando Siqueiros desembarcou em Buenos Aires acompanhado da mulher, a poeta uruguaia Blanca Luz Brum.

Siqueiros é considerado, junto a Diego Rivera e José Clemente Orozco, um dos pais fundadores da escola muralista mexicana, que proclamou uma arte pública dedicada a temas revolucionários e sociais com o objetivo de inspirar as classes populares.

Aqui, o casal conheceu Natalio Botana, fundador do jornal Crítica e excêntrico milionário argentino. Foi ele quem pediu ao artista que pintasse um mural num porão de sua casa de campo, na periferia de Buenos Aires.

O mexicano aceitou a oferta e convocou três jovens pintores para a empreitada: Antonio Berni, Lino Spilimbergo e Juan Carlos Castagnino – que depois fariam os murais da Galeria Pacifico e dariam início ao movimento muralista argentino. Completava a equipe o cenógrafo uruguaio Enrique Lázaro.

Foto AFP

A obra foi executada em apenas três meses e é a única em que Siqueiros driblou a temática política e social. Pintou sua mulher, Blanca, com uma técnica moderna para sua época.

Os artistas substituíram o pincel pelo aerógrafo, o desenho pela fotografia, o óleo pelas resinas sintéticas o banco acadêmico por um ponto de vista arbitrário que se desloca o tempo todo. A intenção era simular uma caixa de cristal afundada na água e visitada por voluptuosas figuras aquáticas.

Para isso, usaram slides que se projetavam de forma oblíqua contra a parede. Como os muros do subsolo eram curvos, as imagens das mulheres nuas se deformavam e os contornos eram traçados a partir dessas imagens.

Blanca não foi somente musa inspiradora: sua figura dotou o mural de um halo de lenda e misticismo. Enquanto Siqueiros pintava o corpo nu de sua mulher no subsolo, Blanca se convertia em amante de Botana. A obra é, dessa forma, também um retrato do fim de um romance.

Pouco tempo depois, Siqueiros apoiou uma greve de trabalhadores e foi expulso do país. Blanca ficou na Argentina, com Botana.

Com a morte do empresário em 1941, a propriedade foi vendida e a mulher do novo dono tentou destruir o trabalho com ácido, por considerá-lo muito pornográfico. Não deu certo. Ela então tapou o mural com cal.

Em 1989 o lugar foi comprado por Héctor Mendizábal, que decidiu resgatar o mural e o separou em cinco pedaços como se fosse um quebra-cabeças, com a intenção de mostrá-la ao mundo.

A obra de engenharia foi super sofisticada, mas esbarrou com um problema judicial e os pedaços ficaram 17 anos guardados em caixas até que, em 2003, Nestor Kirchner declarou o trabalho de interesse artístico e o Senado aprovou a sua expropriação.

Com uma história assim, o mural já virou filme. Aliás, dois. A ficção El Mural de Siqueiros, de Hector Oliveira (o mesmo de Patagônia Rebelde), e o documentário Los Próximos Pasados, de Lorena Muñoz. 

Texto no Noblat, AQUI.

Textos técnicos sobre o tema:

1. O MURAL DE SIQUEIROS NA ARGENTINA – ARTE E POLÍTICA NA AMERICA LATINA, do historiados Daniel Schávelzon, publicado na revista Contratiempo. Integra AQUI. 

2. Un “Ejercício Plástico” para el arte, de María Laura Guevara (Agencia CTyS). 

Tangolomango: sexta, dia 18!

Cia Urbana de Dança

Tudo junto, misturado.

Buenos Aires vai ser invadida por música, dança e circo na próxima sexta-feira, 18, em Tecnópolis, a partir das 19h.

É o Tangolomango, evento que já chega na sua décima quarta edição no Brasil mas que estréia este ano na capital argentina.

É uma espécie de intercâmbio entre artistas dos dois países onde os grupos participam de dois dias de integração e no terceiro dia apresentam um espetáculo em conjunto. Desde 2002, o evento já promoveu o encontro de mais de quatro mil artistas de 300 grupos do Brasil, Argentina, Colômbia, Venezuela e Peru,

Os ensaios são nos dias 16 e 17, na sede do Circo Social Del Sur. Este ano, a direção artística do evento é do brasileiros Ernesto Piccolo.

Os grupos são todos de primeira. De Buenos Aires, se apresentam Urraka, La Arena, Castadiva e Circo Social Del Sur.

Do Rio de Janeiro, chegam Intrépida Trupe, Maracutaia e Companhia Urbana de Dança.

Espiem os vídeos abaixos para ter uma idéia do que tudo isso junto pode resultar!!

Cliquem nos links de cada um dos grupos para conhece-los.

Importante: Não tem nada a ver com tango!

Para os argentinos:

El nombre “Tangolomango” está inspirado en un juego popular del nordeste brasileño en el cual la gente se da las manos y en círculo baila y canta: esta imagen expresa el espíritu del festival.