Ileana Hochmann: arte nos subterrâneos de Roma

A artista em seu atelier, em Buenos Aires

Esta artista plástica mezzo brasileira mezzo argentina é fera!

Conseguiu uma façanha que é para poucos: expôr suas obras na galeria de arte Cândido Portinari do Palácio Pamphilij, na Piazza Navona, Roma, sede da Embaixada do Brasil na Itália.

E mais. Ileana Hochmann não se deteve na construção do século XVII. Descobriu o sub-solo deste espaço, onde se encontram  estratos de um passado múltiplo, inclusive do século I d.C, momento em que a atual Piazza Navona constituía a localização do Estádio de Domiciano ou Circus Agonalis.

O lugar foi fotografado por Davy Alexandrisky e as fotos trabalhadas pela artista.  Agora, em meio a abóbodas subterrâneas, os italianos estão tendo o privilegio de desfrutar de trabalhos que mesclam gravura e fotografia. Em alguns casos, expandidos de seus suportes planos e levados para o espaço tridimensional.  Esperamos,  em breve, vê-los por aqui também.

A exposição Sub-19 foi inaugurada dia 24 e pode ser vista até 12 de setembro.

Abaixo, alguns dos trabalhos desta mostra e um vídeo sobre a artista.

Relevantamento do Subsolo Palazzo Pamplhilj. Ambasciata del Brasile. Roma, Italia.

Silencio profundo

Archipelago

Ileana Hochmann from ro200000.com on Vimeo.

Beatriz Milhazes no Malba

O Mágico

É “a” exposição do ano em Buenos Aires: Panamericano. Beatriz Milhazes. Pinturas 1999 – 2012, e será inaugurada dia 13 de setembro, no  Malba.

A mostra tem curadoria de Frédéric Paul e forma parte das comemorações do Mês do Brasil na Argentina, organizada pela Embaixada do Brasil em Buenos Aires.

São  30 pinturas da produção recente de Milhazes, além de uma intervenção criada especialmente para a galeria do segundo piso do museu. As peças vem,m em sua maioria, de coleções particulares e públicas do Brasil e Estados Unidos. Entre elas estão obras emprestada pela primeira vez pelo Museu Guggenheim de Nueva York e uma pelo Museu de Arte Moderna de Sao Paulo.

Foto: divulgação

Outras duas obras fazem parte da coleção pessoal do dono do Malba, Eduardo F. Costantini: O mágico (2001) y Pierrot e Colombina(2009-10).

Milhazes é uma das artistas brasileiras mais valorizadas no mercado de arte. A tela “O Mágico”, por exemplo, criada em 2001, foi vendida por mais de um milhão de dólares, equiparando-se à célebre Tarsila do Amaral com sua obra “Abapuru”

É a primeira exposição de Milhazes na América Latina.

Cartas de Baires: Fileteado, a tipografia da cidade

“Primo” dos textos dos caminhões brasileiros

Antigo, popular e marginal como o tango, a técnica pictórica conhecida como  fileteado portenho é uma das melhores traduções de Buenos Aires. Chegou com os imigrantes, foi proibido por razões de segurança, sobreviveu de teimoso e hoje vive uma fase de redescoberta.

Grosso modo, pode-se dizer que o fileteado é um parente sofisticado das decorações das carrocerias dos caminhões brasileiros. Também começou nos carros e com frases cunhadas na sabedoria popular.

Infelizmente há poucos registros oficiais do início desse trabalho. Entre seus pioneiros estão três italianos – Cecilio Pascarella, Vicente Brunetti e Salvador Venturo – que começaram a pintar com cores as laterais as carroças que eram usadas para entregar produtos, no final do século XIX (e que até então eram cinza) e separá-las com uma linha fina de cor mais intensa ou constante, o que chamamos hoje de filete. Depois, passaram para os carros e ônibus.

A partir daí foi-se criando o repertório específico de desenhos que caracterizam o fileteado: flores, folhas, pássaros, fitas com o azul e branco da bandeira Argentina, bolas, dragões e ainda linhas retas e curvas de diferentes espessuras que vão se mesclando com cenas do campo e personagens populares, como a Virgem de Luján e Carlos Gardel.

Na década de 1970, o filete foi proibido por lei porque podia distrair os motoristas. E quase desapareceu. Mas foi justamente esta proibição que levou os filetes para outros suportes.

Diferente do que aconteceu no Brasil, na Argentina a técnica ganhou novos usos. Saiu dos veículos para os cavaletes dos ateliês de arte. Hoje se vê o fileteado por todo o lado, inclusive em roupas e, ultimamente, até na pele. A tatuagem com filete está na super na moda.

A moda agora é a tatoo fileteada!

O Iº Encontro de Fileteadores portenhos, realizado neste final de semana, no bairro de Mataderos, reuniu mais de 200 profissionais e, mesmo ignorado pela imprensa local, mostra que há um movimento para que esta arte não desapareça.

Participaram do evento grandes maestros, com mais de 50 anos de filete, e também jovens de 18 anos, que começam a fazer seus primeiros desenhos. Surpresa: muitos deles saídos da Escola de Belas Artes, que fizeram uma opção por uma técnica decorativa tradicionalmente popular.

Entre os artistas mais reconhecidos nesta técnica estão o polonês León Untroib (morto em 1994). Da geração atual, Martiniano Arce e, mais recentemente, Alfredo Genovese, que está fazendo uma revolução no uso comercial do filete, trabalhando para grandes marcas, como Nike e Coca-Cola.

A tradição gráfica do filete sobrevive e renasce, como fez o tango. Agora falta somente que se revogue o decreto que a proibiu de ser usada nos ônibus, para que volte a adornar com humor e  melancolia a cidade que a inspira.

Texto no Noblat, AQUI. 

Adoro esse!

Dica para Brasília: Portinari bordado!

O fio da meada , o avesso e o círculo do bastidor

Sempre que faco uma lista das coisas mais lindas que já vi  – ou fiz – na vida, me vem à mente os bordados do grupo Matizes Dumont e as tardes que passei bordando  com estas mulheres, entre linhas e cores. Recém tinha me separado, e usar os domingos para bordar e pensar na vida foi muito sanador.

O grupo foi criado inicialmente por seis artistas de uma mesma família de Pirapora, Minas Gerais: a mãe Antônia Zulma Diniz Dumont e cinco filhos: Ângela, Marilu, Martha, Sávia e Demóstenes. Depois, o círculo em sua vitalidade ampliou-se com a participação da terceira geração (Luana, Tainah, Maria Helena, Paula e Luíza).

Elas bordam a vida, o país e, principalmente, histórias. 

Começaram a ilustrar livros em 1988 e, de lá para cá, já somaram mais de 20 obras, que incluem autores como Jorge Amado, Ziraldo, Manoel de Barros, Thiago de Mello, Rubem Alves, Carlos Brandão, Tetê Catalão,

A última delas: bordados a partir dos estudos de Candido Portinari para os painéis Guerra e Paz. Estarão em exposição no Museu Nacional do Conjunto Cultural da  República a partir de 28 de junho.

Im-per-dí-vel!

Trico e histórias de amor

Com o projeto em Lisboa

Não tem nada a ver com Buenos Aires, mas tem a ver com tricotar, que eu adoro.

A artista plástica Ana Teixeira montou uma banca na Avenida Paulista e convidou quem passasse: “Escuto histórias de amor”.

Quem passou e não resistiu, parou e contou. Enquanto as pessoas contavam seus dramas e delírios amorosos, ela tricotava.

Ana desenvolve um trabalho reconhecido por alguns teóricos como “arte relacional”, ou seja, uma arte que toma como horizonte as interações humanas e seu contexto social, mais do que a afirmação de um espaço simbólico autônomo e privado.

A maioria das ações é ambientada na rua, em interação com um público bastante diversificado, composto tanto por frequentadores habituais de museus e galerias, quanto por transeuntes não habituados à convivência com obras de arte de qualquer espécie. Desta vez ela pensou em Penélope esperando Ulisses. Escolheu o tricô.

Ela já fez trabalhos semelhantes entre os anos de 2005 e 2010 em nove países: Alemanha, Itália, Espanha, França, Chile, Canadá, Brasil, Portugal e Dinamarca.  Uma câmera, ao longe, registrou a ação.

A reação das pessoas foi variada e em alguns lugares ninguém falou com ela. Em outros, ela escutou diversas histórias diferentes.

As ações foram registradas em mídia digital e uma vídeo-instalação com os filmes de seis países foi exibida em Toronto, no Canadá, em junho de 2008, no Mercer Union, Centre for Contemporary Art.

Os filmes não têm som e a vídeo instalação conta com um som único, editado com vozes em diferentes línguas e outros ruídos cotidianos dos espaços públicos.

As histórias de amor não podem ser ouvidas. Ficam guardadas no barulho das ruas e na trama do tricô vermelho.

Reveillón em Buenos Aires 2: dicas de exposições

Três excelentes exposições para quem está chegando a Buenos Aires para as festas.

All we need is love!

1. Rock Seen – Para quem gosta de fotografia e música, esta exposição tem que estar na agenda: Rock Seen, com cliques de Bob Gruen, mundialmente conhecido como o fotografo de John Lennon. São 70 fotografias capturadas ao longo de quatro décadas por um dos fotógrafos mais importantes da história do rock. Inaugura dia 7, no Centro Cultural Borges, com a presença do fotógrafo, e fica até 15 de janeiro.

Gruen iniciou sua carreira em meados dos anos 1960 – na época, era apenas um grande fã de Bob Dylan – e desde então registra a trajetória das maiores bandas e ídolos do rock, do pop e do punk. Foi amigo de John Lennon e é o autor de uma de suas mais célebres imagens: Lennonem frente à Estátuada Liberdade vestido com uma camiseta na qual estava escrito “New York City”.

Sua obra imortalizou também Led Zeppelin, The Who, David Bowie, Tina Turner, Elton John, Aerosmith, Kiss e Alice Cooper. Nos anos 1970, virou o fotógrafo dos bastidores de bandas emergentes de punk e new wave, incluindo New York Dolls, Clash, Ramones, Patti Smith Group e Blondie, tendo excursionado com os Sex Pistols pelos EUA. Gruen também chefiou a seção de fotografia da Rock Scene Magazine.

O site do fotógrafo na internet é www.bobgruen.com.

Objetos íntimos e concertos fundamentais (Foto Clarín)

2. Exposição Mercedes Sosa: un pueblo en mi voz, até o dia 29 de fevereiro no Museu do Bicentenário. Este é um passeio dois em um. Primeiro, para conhecer este novo espaço que conta a historia dos 200 anos da historia argentina e, de passo, conhecer um pouco mais sobre a vida deLa Negra.

A exibição propõe um passeio a partir de cinco concertos fundamentais da cantora: no Olympia de París, em 1979; no Teatro Opera de Buenos Aires em 1982; no Lincoln Center de Nova York, em 1992; em Santa Catalina de Jujuy, em 2001 e no Coliseu de Roma, em 2002.

Fotos, muitas delas inéditas, retratos feitos por Antonio Berni, Carlos Alonso, Antonio Pujía e Annemarie Heinrich; objetos pessoais e vídeos completam a mostra.

Inaugurado no ano passado, o Museu do Bicentenário fica atrás da Casa Rosada, nas galerias que foram parte da Aduana Taylor, construída em 1855, e do Forte de Buenos Aires, datado do século XVIII. As construções passaram por um minucioso processo de recuperação patrimonial e agora podem ser visitadas por todos. São cinco mil metros quadrados, que contam os 200 anos da história do país. O principal atrativo é um mural do mexicano David Siqueiros, de 1930. O local tem cafeteria e a entrada é gratuita.

Instalação lisérgica da Biblioteca de Babel (foto Clarín)

3. Exposição Cosmopolis Borges. Até 31 de dezembro, no subsolo da Casa de Cultura. A  mostra reúne instalações audiovisuais, documentação e cerca de 150 fotografias que retratam Borges e a cidade. Sugiro que entrem nas cabines que mostram vídeos e os disfrutem. Vale a pena. Foto obrigatória na Biblioteca de Babel!!

Bicho suspenso no espaço

Foto Gisele Teixeira

O Edu já queria fazer uma siesta!

O Faena Art Center tem tudo para ser a nossa versão portenha da Tate Gallery. Ainda não é. Mas chegou com pinta. São 4 mil metros quadrados de área construída, com duas salas de exposições gigantes, e investimento de US$ 15 milhões. O espaço funciona onde um dia foi um dos maiores moinhos da cidade, em Puerto Madero, e chega para ser um espaço de vanguarda. Foi erguido pelo arquiteto Miguel Angel McCormack.

Para inauguração, o mega empresário Alan Faena chamou o brasileiro Ernesto Neto, que criou uma instalação especialmente para o lugar.

Batizada de “Hiper Cultura Locura en el Vértigo del Mundo”, a peça é um “monstro” de crochê, pendurado desde o teto, pela qual se pode caminhar por dentro. Para entender, melhor ver as fotos oficiais, AQUI.

Parada obrigatória dos visitantes nas próximas viagens a Buenos Aires!


Do outro lado do quadro

Adorei esse blog, DESDE EL OTRO LADO DEL CUADRO, que descobri por meio de Daniel Merle.

A idéia é contar o que há por trás dos quadros (alguns muito famosos, outros não). Quem são os personagens? Qual a historia por trás de cada pintura? Que quiseram mostrar?

Uma provinha com Modigliane, um dos meus preferidos.

Esta que está aí ao lado é Fernande Barrey, de quem se sabe muito pouco. Para alguns autores foi uma pintora pouco conhecida, para outros uma prostituta parisina que costumava freqüentar o “Café de la Rotonde”, em Montparnasse. Este café era lugar de reunião de Modigliani, Chaim Soutine, Picasso, Nina Hamnett, Jean Cocteau, Jean Agélou e Leonard Tsuguharu Foujita, pintor japonês anclado em Paris.

Este retrato foi feito por Modigliani no ano de 1917, mesmo ano em que ela conheceu Foujita. Os dois se apaixonaram perdidamente e se casaram 20 dias depois.

As relações entre Foujita e Fernande foram bastante liberais, mas ele nunca a perdoou por ter tido uma relação com o pintor Koyanagi, primo de Foujita.

Por isso os dois acabaram se separando. Ela viveu com Koyanagi até a sua morte.

Marta Minujín. Obras 1959-1989

Não percam a exposição retrospectiva da artista Marta Minujín, no Malba.

São mais de 100 obras com foco nas produções das décadas de 60, 70 e 80, com curadoria de Victoria Noorthoorn.

Para quem não a conhece, Minujín é uma figurinha carimbada da arte argentina, famosa por fazer uns happenings muito surreais e bizarros.

Entre eles, realizou o Partenón de Libros, uma estrutura tubular de ferro do mesmo tamanho que o Partenón de Atenas, recoberta por milhares de livros proibidos durante a ditadura militar. O Partenón foi aberto e compartilhado com o público durante a noite de Natal de 1983, o primeiro ano do país novamente em democracia.

O ato mais chocante para mim, no entanto, foi Visual Event, um happening feito no estádio do Peñarol, em Montevidéu, em 1965. Influenciada pelo filme 8 ½ de Federico Fellini, Minujín reuniu, em um estádio lotado, um grupo de 20 motociclistas, 20 mulheres gordas, 20 fisioculturistas, 20 casais de namorados e 20 prostitutas.

O resultado? As prostitutas saíram beijando todos os homens que estavam no estádio, enquanto os fisiculturistas levantavam as gordas, os namorados se grudavam com fita adesiva, os motociclistas giravam ao redor de tudo. Do alto, num helicoptero, ela entrava em cena colocando no piso 500 galinhas vivas, 500 alfaces e 500 quilos de farinha.

É preciso reservar um tempinho para fazer a visita com calma, experimentar tudo que é de experimentar e escutar as falas da artista nos fones de ouvido, que são altamente engraçadas. Uma delicia a parte da exposição que mostra as obras dela nos anos 70, com um guarda roupa e imagens de época.

Mais não dá para contar.

Deixo você com um vídeo que fizemos no local.

Museu Rodin

Para quem vem a Paris, melhor reservar uma tarde inteira para conhecer o Museu Rodin com calma.

Além de um acervo enorme com as principais obras do escultor, e também de Camille Claudel, o próprio local é um atrativo a parte.

Foi uma surpresa para mim, que não esperava uma experiência tão intensa.

O museu funciona no antigo Hotel Biron, construído a princípios do século XVIII, onde o artista viveu nos últimos anos. É uma mansão com dez salas no térreo e mais oito no primeiro andar.

Na parte interna, o acervo inclui os trabalhos mais famosos de Rodin, como O Beijo, e ainda pinturas de Van Gogh, Monet e Renoir.

Do lado de fora, um jardim de três hectares, abriga outras esculturas, como O Pensador (que tem como pano de fundo a cúpula de Les Invalides e a Torre Eiffel), As Portas do Inferno, Os Burgueses de Calais e Balzac.

O hotel serviu de locação para diversos filmes. Entre os diretores que decidiram rodar por lá estão James Ivory, Jean-Luc Godard e Robert Altman.

Mais recentemente, Woody Allen. No filme “Midnight in Paris”, que estréia no ano que vem, Carla Bruni interpreta uma guia do Museu Rodin.

Mas desta vez, infelizmente, ela nao estava lá!

Endereço: 79 rue de Varenne 75007 Paris – Metrô linha 13 estação Varenne (http://www.musee-rodin.fr/)