A coluna desta semana é dedicada ao pai, com quem não pude estar no último domingo. Como alguns personagens desta história ele também é médico, também é do bem e também é avô . Só que graças à democracia pode colocar um neto no colo e contar-lhe uma história. Mais um neto, aliás.
Que venha Thomás!
Com 106 netos recuperados (o último na semana passada), as Avós da Praça de Maio celebrarão seus 35 anos de trabalho em 22 de outubro próximo – Dia Nacional do Direito à Identidade.
Mas o presente quem ganha é a gente. Micros documentários de três minutos, contando a vida de cada uma das crianças encontradas e uma série chamada “99,99% – La Ciencia de las Abuelas”, que resgata um lado menos conhecido destas senhoras: a busca pelos métodos científicos que permitiram comprovar estas identidades.
Quando as avós começaram a buscar os cerca de 500 bebês roubados dos pais durante a última ditadura militar, ainda na década de 1970, se depararam com um problema. Tinham nada mais que fotos e lembranças.
Mesmo que os encontrassem, não haveria como comprovar suas filiações verdadeiras, tendo em vista que os pais estavam mortos ou desaparecidos.
Então se perguntaram: existe um elemento constitutivo do sangue que só aparece em pessoas pertencentes à mesma família? Foram atrás de geneticistas. Bateram em muitas portas.
Somente no ano de 1982 passaram por 12 países, entre eles França, Alemanha e Inglaterra, até que chegaram Blood Center de Nova Iorque e à Associação Americana para o Avanço da Ciência em Washington.
Graças a eles, um ano depois, encontraram um método que permite chegar a um percentual de 99,9% de probabilidade, mediante análises específicas de sangue. Era criado neste momento o “índice de abuelidad”, que ficou famoso no mundo. É bom lembrar que ainda faltava um tempo para que os segredos dos genes e do DNA viessem à tona como agora.
Em dezembro de 1983, no primeiro dia hábil de democracia, as avós obtiveram uma ordem judicial para analisar o sangue de uma menina, Paula Eva Logares, que elas tinham certeza era filha de desaparecidos. Foi o primeiro caso comprovado. Nunca mais pararam.
Exigiram a exumação de cadáveres, ajudaram a criar a Equipe Argentina de Antropologia Forense, fundaram o Banco Nacional de Dados Genéticos e, principalmente, ajudaram na descoberta do DNA mitocondrial, tema sobre o qual podem dar até aulas!
Não há espaço para detalhes técnicos na coluna, mas está tudo aqui, no livro “Las abuelas y la genética”,que pode ser baixado gratuitamente AQUI.
O trabalho que elas fizeram foi fundamental não somente para a restituição de identidade como para o julgamento dos genocidas. E muito mais para os geneticistas, que admitem publicamente que sem as avós não teriam chegado tão longe.
AQUI também há boas explicações científicas e um ótimo vídeo.
Em breve os quatro episódios de 99,99% poderão ser baixados AQUI.