Cartas de Baires: Terapia para todos!

A série de televisão Em Terapia desembarcou semana passada na cidade mais psicanalisada do mundo. E tem tudo para ser um absoluto sucesso.Buenos Aires possui um terapeuta para 120 habitantes, um linguajar “psi” que é dominado pela população e, convenhamos, um estoque de problemas para muitas sessões!

A versão argentina segue a ficção original, criada em Israel com o nome de “Be Tipul”, e depois vendida a 35 países do mundo, sendo a adaptação americana (In Treatment) a mais popular.

O programa, o primeiro da TV publica em alta definição, tem a lógica de uma terapia real. São 30 minutos de “sessão” sem intervalos comerciais, e cada paciente aparece em seu dia definido da semana. O papel principal, de terapeuta, ficou a cargo de um ator (Diego Peretti) que é psiquiatra de profissão e que encara o papel de psicanalista pela terceira vez em sua carreira.

Os primeiros capítulos mostraram que não serão leves os temas abordados.

Um dos pacientes, por exemplo, é um policial de elite que, em função de um erro numa operação contra narcotraficantes, acabou matando crianças e mulheres. Mas há também uma adolescente com tendências suicidas, um casal em crise que enfrente o dilema de ter um filho ou abortar e uma médica que se apaixona pelo terapeuta. O último dia da semana é reservado para reunião do terapeuta com sua supervisora (papel encarado pela grande Norma Aleandro).

Embora a psicanálise seja uma das grandes paixões argentina, o método terapêutico da série, na verdade, não é de linha psicanalítica. Segundo a produção, “é um ramo da psicoterapia subjetiva, derivada da freudiana, em que o terapeuta é parte do jogo, onde suas emoções e sentimentos fazem parte da sessão”.

Todos os encontros podem ser vistos, no dia seguinte após a exibição, na página do programa no Facebook AQUI.

Em tempos de TV aberta de tão baixa qualidade, me parece um luxo que uma televisão pública invista em uma série baseada exclusivamente na palavra e no roteiro, sem grandes produções, sem ação em tempo integral, sem tiros, sem correria. E, principalmente, sem mulher pelada.

São apenas duas pessoas, às vezes três, sentados um em frente ao outro, falando de intimidades. Pausas, silêncios, frases inteligentes, boa fotografia, excelentes atores. Que mais se pode pedir?

“A audiência culta se constrói”, afirmou o diretor Alejandro Maci.

Se fosse terapia, dava “alta” para a TV Pública argentina.

Abaixo, um pouco de cada personagem, para quem quiser acompanhar pela internet

Texto no Noblat, AQUI.

Anfibia: nova revista na área

Outro bom texto é Mientras el Diego duerme, sobre um famoso cabaré de Buenos Aires

De vez em quando tem boa notícia para jornalistas, como a revista digital  Anfibia, lançada esta semana em Buenos Aires. Alem de experimentar, a publicação vai falar sobre a América Latina. Maravilha.

É uma nova proposta para a narração de histórias jornalísticas e relatos de não ficção, que promete mesclar os discursos da teoria e da análise com as novas narrativas.

Algumas cronicas são, inclusive, elaboradas a quatro mãos, por profissionais que representam os dois perfis: cronistas e acadêmicos.

Um belo exemplo é o texto sobre os NAO-ALINHADOS da Venezuela.

Existen los chavistas, los antichavistas y un tercer grupo, el más numeroso, el menos conocido, el que definirá las elecciones presidenciales de octubre: los “no alineados”. Como Marielena, que votaba por Chávez, pero ahora no sabe.

Que esté desilusionada de su presidente no significa que haya cruzado la frontera hacia otro planeta. De hecho, está en su propio territorio: el de los no alineados, como a veces llaman a los venezolanos que no se autodefinen ni chavistas ni opositores. El de Marielena es un territorio superpoblado donde habitan, según las encuestas, un tercio de los venezolanos. Unos nueve millones de una Venezuela de veintisiete millones de habitantes, donde el promedio de edad, según el último censo de 2011, es de veintiséis años. Un territorio joven, como la chica costeña de cintura desdibujada.

Texto de : Liza López John Magdaleno, completo AQUI. 

O lançamento conta com “pesos pesados” da narrativa latino-americana, como Juan Villoro, Martín Caparrós e Alberto Salcedo Ramos, além de um bom grupo de  fotógrafos e colaboradores.

A publicação foi criada pelo “Programa Lectura Mundi de la Universidad Nacional de San Martín – UNSAM, com o apoio da “Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano” (FNPI). E já vai promover sua primeira atividade, o Taller Anfibio: Adentro, al borde o afuera: Crónicas de la diversidad juvenil en América Latina, de 6 a 10 de junho.

A atividade será conduzida por Francisco Goldman, jornalista, e Rossana Reguillo, investigadora em antropologia social.

Cartas de Baires: O falso positivo e os jornais argentinos

Alguém mais vê maldade nesta vírgula, ou estou meio tendenciosa?

Os argentinos passaram o fim de semana digerindo o resultado de “falso positivo” dos exames da presidente Cristina Kirchner. A notícia de que o diagnóstico inicial tinha sido modificado – ou seja, não era câncer de tireóide – deu margem para especulações de todo o tipo na imprensa. Erro médico? Uso político?

Para acalmar os ânimos, no final da tarde do domingo a equipe médica divulgou uma cópia dos primeiros exames onde os especialistas falavam de “citologia compatível com carcinoma papilar (Bethesda categoria VI)”. Isto é, com um valor do sistema Bethesda que caracteriza o tecido como tumor maligno, que deve ser extirpado mediante cirurgia.

A linguagem médica do documento, no entanto, era cautelosa e qualificava o analisado como “compatível” com um carcinoma, o que deveria ser confirmado com biopsia posterior à cirurgia. Segundo os médicos, isso não se confirmou e a presidente entrou para os 2% de casos denominados “falsos positivos”, que só podem ser verificados após a cirurgia (esta, inevitável, com ou sem câncer).

Como a mídia abordou o tema?

O jornal Clarín, principal opositor ao governo, costuma abrir fogo nos títulos e manchetes (embora os textos não deixem por menos). “A presidente foi operada por um câncer que não teve”, “Governo admite que o diagnóstico estava equivocado”, “Cristina foi operada sem necessidade e lhe tiraram inutilmente as tireóides”. “Quer dizer que Cristina Fernandez não tem câncer e agora também não tem glândula tireóide”, salivou uma jornalista.

O La Nación é mais sóbrio nas manchetes (A presidente não tem câncer, ou Casa Rosada nega erros no tratamento da presidenta). E também nos textos, que são infinitamente mais profissionais que os do Clarín.

Por outro lado, bombardeia nos editoriais e artigos. Carlos Pagni, no texto “Mala Práxis do governo”, coloca pimenta na história. “Todas estas irregularidades nos obrigam a perguntar se o governo trata o corpo da presidente com a mesma negligência com que administra a moeda”, diz. Os comentários são de arrepiar!!

Os jornais mais alinhados abusam do tom na outra ponta, claro. “A melhor notícia”, alardeava o Página 12 de domingo. “Governo assegura que contou tudo sobre a saúde de Cristina”, dizia El Argentino.

Como vocês podem ver, o tema ainda vai render por aqui. E fica a impressão de que qualquer que fosse o resultado dos exames, a briga na mídia ia seguir igual. Pior para o leitor, que fica sem entender nada. Mas com um ex e um atual presidente que já passaram por problemas de saúde, o Brasil sabe bem como é isso.

Texto completo no Noblat, AQUI. 

A “independente” imprensa argentina

Um dia após a votação arrasadora de Cristina Kirchner, que registrou 54% dos votos para presidente ontem, os jornais locais deram pistas de que vão “profundizar o modelo”, para usar uma expressão que está na moda aqui.

Nesse caso, reforçar a oposição que os partidos políticos não conseguiram construir.

No La Nación, as manchetes chegam com os seguintes conteúdos: concentração de poder, populismo sem limite, democracia frágil, congresso dócil, perda de controle da economia, consenso ou luta, perigo.

O jornalista Luis Majul, em sua coluna semanal, aposta que o próximo mandato não será mais do mesmo, e sim mais do pior do mesmo. “Hegemonia. Mais soberba. Mais prepotência. Mais tolerância. Mais acumulação de poder com muita caixa para convencer os indecisos.”

Um asco de comentário, para usar a palavra que tanto trabalho deu a Fito Paes. Para quem quiser ter uma úlcera, a íntegra está AQUI. 

O Clarín, que sempre se gabou de derrubar presidentes após quatro manchetes negativas seguidas, também está se retorcendo e começa a disseminar o medo ao alertar seus leitores sobre os perigos de tanto poder da presidente com maioria absoluta nas duas câmaras do Congresso.

Infelizmente, nem todos os argentinos podem ler outras matérias, como a divulgada pela BBC Brasil.

Segundo o texto distribuído hoje, “nove anos seguidos de altas taxas de crescimento econômico (2003-2011), a criação de 3,5 milhões de postos de trabalho (com carteira assinada) e a queda nos índices de pobreza, estão entre as principais razões que explicam a reeleição da presidente Cristina Kirchner para mais quatro anos de mandato”.

Dito isso, termino com a famosa frase de Maradona, super grosseira (mas tao clássica que já virou até camiseta), que cabe bem à mídia que faz terrorismo e por isso não resisto: “que la sigam chupando!” 

Cartas de Baires: o Caso Candela e a imprensa argentina

Segue abaixo a coluna Cartas de Buenos Aires, publicada hoje no Blog do Noblat. 

Imprensa fazendo "portaria". Foto Clarín

O seqüestro e morte de uma menina de 11 anos, cujo corpo foi encontrado quarta-feira passada na periferia de Buenos Aires, comoveu o povo argentino. E abriu uma discussão sobre os limites da interferência da mídia nestes casos.

Candela Rodríguez desapareceu em 22 de agosto, quando saiu de casa para se encontrar com um grupo de amigas. Seu corpo foi encontrado dia 31 dentro de um saco, nu, a três quilômetros de onde ela vivia, por uma catadora de lixo. Não houve pedido de resgate.

Desde o início, uma grande operação foi montada para encontrá-la. Familiares e amigos fizeram uma marcha, a mãe foi recebida pela presidente Cristina Kirchner, o governo de Buenos Aires ofereceu 10 mil pesos de recompensa a quem ajudasse a esclarecer o caso e até atores famosos se envolveram na busca da menina.

Para completar, os investigadores anunciaram um reforço de 1600 agentes, dois helicópteros, 15 cães rastreadores e 143 carros.

Tudo foi mostrado em tempo real pela mídia, 24 horas por dia. Os jornalistas tiveram acesso a toda a investigação e, mesmo quando não havia novidade, mantinham o foco neste tema com entrevistas absurdas com as amiguinhas de colégio, os vizinhos, e “palpiteiros” em geral. No grand finale, sem pudores, as televisões mostraram as cenas em que a mãe identifica o corpo da filha.

O resultado da autopsia mostrou que Candela foi morta por asfixia apenas 36 horas antes de o corpo ser encontrado. Isto é, passou com vida durante sete dias em que esteve em cativeiro!

Durante este período não foi violentada nem mal tratada. Especialistas disseram que, pelo estado de nutrição, hidratação e falta de sinais de ataduras, ela provavelmente se movia dentro do perímetro em que estava encerrada. E levantaram a hipótese de ela ter sido levada por uma pessoa próxima à família.

Teriam os seqüestradores se assustado com a repercussão do caso? Seria possível outro desfecho se a investigação tivesse sido sigilosa? Precisava essa cobertura obsessiva?

Nunca saberemos.

Depois da morte de Candela, os investigadores se fecharam, mas as matérias sobre o caso devem continuar ainda por algum tempo. Agora, a mãe da menina passou de vítima a suspeita. Os jornais especulam que ela sabia mais do que contou à polícia e que a família estaria envolvida em trafico de drogas. O pai está na cadeia por roubo de cargas e tem uma ficha corrida nada modesta.

Ontem alguns veículos começaram a dizer que Candela nem seria mais virgem. Só o que falta é agora é ela virar culpada. Um horror, tudo.

Desde 2003,quando foi criado o Registro Nacional de Pessoas Menores Desaparecidas, foram recebidas 17.924 denúncias. Desse total, 16.076 ocorrências foram resolvidas. Houve 11 mortes entre todos os casos – incluindo Candela.

Esta é a única certeza até agora.

Sobram reflexões.

Nova revista de comunicação e saúde

 

No último dia 17 de janeiro foi lançada na Argentina a Revista de Comunicación y Salud (RCyS), uma publicação em Espanhol e Português, que pretende ser um lugar de encontro para especialistas e acadêmicos.

O numero de estréia inclui um artigo dos brasileiros Mariana Soares da Silva Peixoto Belo e Frederico Peres, intitulado “Quando a comunicaçao se restringe a rotulagem: amplificando os riscos associados ao uso de agrotóxicos no meio rural brasileiro”.

Mas há mais de dez textos científicos. Entre eles  me chamou a atenção o estudo “El tratamiento del VIH/sida en los medios de comunicación escritos españoles: ABC, El Mundo, El País, El Periódico y La Vanguardia”.

A publicação é somente eletrônica e pode ser acessada AQUI.

A matéria completa sobre o tema saiu no Página 12 de hoje, único jornal da Argentina que tem uma seção especifica de Meios e Comunicação.

 

 

No sea pelotudo, déjese censar

 

 

Amanha é feriado na Argentina em função do Censo 2010.

Cerca de 600 mil pesquisadores estarão percorrendo o país para realizar o levantamento. Há uma expectativa de que esta edição seja a mais inclusiva de todas.

Isto porque além de recolher dados sobre saúde, qualidade de vida, índice de ocupação e nível de escolaridade, entre outros, há perguntas sobre a população afrodescendentes, casais homossexuais com filhos, e comunidades indígenas – para citar algumas das novidades.

Recentemente, parte da imprensa argentina – especialmente a que está contra o governo – começou uma campanha de terror, “sugerindo” que delinqüentes e ladrões, disfarçados de pesquisadores, poderiam roubar casas e apartamentos durante a realização do censo.

Este é o tema do Cartas de Buenos Aires de hoje, no Noblat.

Texto completo AQUI.

Distante e desconhecida

É bem raro encontrar uma matéria sobre Buenos Aires que não seja o clichê do clichê. Turismo, tango, carne.

Pois bem, a Gazeta do Povo, de Curitiba, surpreendeu com uma série de textos sobre o país, que incluem abordagens sobre a Nova Literatura Argentina, as bandas que estão na moda, quadrinhos e ainda cinema.

Vale a pena dar uma espiada AQUI.

De lambuja, entre os entrevistados estão o amigo Marcelo Barbão, do Direto de Buenos AiresCaderno de Escritura, e também Tulio Bragança, que viveu aqui algum tempo e agora está de volta ao Brasil.

Os negócios do tango

Esses tangueiros são ou não são irresistíveis?

Mês passado fiz a produção para uma série de matérias sobre Buenos Aires que irão ao ar no Programa Mundo S.A, da Globonews. A primeira, sobre tango, foi divulgada ontem e resultado vocês podem ver AQUI.