Tierra de los Padres, filme sobre o Cemitério da Recoleta

Tem mais de um ano que espero a chegada deste filme aos cinemas. Pode ser visto a partir do dia 5 de julho, na sala Leopoldo Lugones.

Depois de sua estréia mundial com sucesso, em Toronto, no ano passado, a película sofreu um certo rechaço em vários festivais e não participou, por exemplo, do Bafici.

O filme conta o enfrentamento de duas versões da história argentina: a dos vencedores e a dos vencidos. Com a particularidade de que o faz por meio de um espaço concreto e simbólico ao mesmo tempo: o Cemitério da Recoleta, no qual repousam juntos os que no passado lutaram em lados opostos.

Esse recorrente enfrentamento (ainda hoje presente) é posto em cena através de citações lidas junto às tumbas, dando lugar a uma espécie de “diálogo de mortos” que vai debulhando a história.

Há uma crítica interessante AQUI e várias fotos sobre o filme AQUI, em Cinema Nacional.

Tierra de los Padres (Fatherland) Oficial Trailer from Trivial Media on Vimeo.

Festival de Cine e Direitos Humanos

Festival de Cine e Direitos Humanos

Começa quarta-feira, em Buenos Aires, o 14 Festiva de Cinema e Direitos Humanos.

A programação é extensa. Há uma competição de longas, com filmes de diferentes países, que parece que está ótima; de documentários nacionais e também de curtas e média metragens.

Uma dica é Cocaine Unwrapped, que mostra a história da coca: os agricultores da Colombia, os chamados “mulas” nas prisoes equatorianas, as fábricas de cocaína na selva boliviana, os traficantes das ruas do México e Baltimore…e os consumidores do ocidente.

Uma história de morte, devastação econômica e sofrimento. O documentário é inglês, da diretora Rachel Seifert

Também estou louca para ver Putos Peronistas, Cumbia de un Sentimiento, que conta a história da agremiação  Putos Peronistas de La Matanza. Faz um tempo escrevi coluna minha sobre este tema, chamada DO ARMÁRIO PARA A POLÍTICA, que pode ser lida AQUI. 

Há depois mostras temáticas (Ambiente, Povos Originários, Infância, Gênero, etc) e por regiões (Colômbia, Cuba, Venezuela, Oriente Médio). Há, por exemplo, quatro filmes sobre a chamada Primavera Árabe, com visões de diretores da Franca, Grécia, Tunísia e Jordânia.

Uma bela oportunidade de ver películas que nunca vão chegar ao circuito comercial. A programação está dividida entre as salas Incaa 0, Cosmos UBA, Auditório da Biblioteca do Congresso, Alianca Francesa e Centro Cultural de Espanha em Buenos Aires.

Programação completa AQUI. 

Cinema argentino: vem aí mais um torpedo!

Cinema argentino: vem aí mais um torpedo!

Semana passada fui ver O Ultimo Elvis, que é um filmaço, divertido e triste ao mesmo tempo.

E este final de semana estarei nas filas para assistir “Elefante Blanco”, que promete ser mais um sucesso do cinema argentino. Teve estréia ontem e vendeu mais de 15 mil entradas!

Reúne o mesmo elenco de sucesso de Carancho: o diretor Paulo Trapero e sua mulher Martina Gusmán e o ator Ricardo Darin (por supuesto).

Na trama, Darín e o ator belga Jérémie Renier, conhecido pelos filmes dos irmãos Dardenne, interpretam dois padres que trabalham na comunidade de Villa Virgen, favela de Buenos Aires tomada pela violência.

No trio de roteiristas também tem repeteco, com Martín Mauregui, Alejandro Fadel e Santiago Mitre.

Novo espaço cultural da Biblioteca do Congresso

Novo espaço cultural da Biblioteca do Congresso

Foto Clarín

A Biblioteca do Congresso tem um novo espaço cultural, localizado na rua Adolfo Alsina, 1835.

Inaugurado em março, o local receberá ciclos de cinema, espetáculos de teatro, exibições de arte e oficinas de diversos tema. Tudo gratuito. Concentrará também as atividades de digitalização, microfilmagem e restauração de documentos.

No subsolo do novo edifício foi instalado um micro cinema com capacidade para 140 pessoas, imagem em 3D e alta definição e som digital 5.1. As sessões são todas as terças e quintas, às 18h30. Este mes há dois ciclos: Cine e Revolução e Escritores no Cinema. Vejam a programação AQUI.  

No térreo há uma galeria de arte (de um total de sete espaços de exposições) e um café (que ainda não está pronto). No primeiro piso funcionam as oficinas de artes plásticas, tango, fotografia, filosofia, folclore e informática, para citar alguns.

A Biblioteca do Congresso foi fundada em 1859 como biblioteca parlamentar e, desde 1917 estendeu seu serviços ao público com geral. Fica aberta as 24 horas, na sede central de Hipólito Yrigoyen 1750.

O setor bibliográfico – que conta com um catálogo de mais de 3,5 milhões de pecas – segue na sede central,  mas pode ser consultado no site http://www.bcnbib.gov.ar.

Aconselho que voces deem uma explorada porque tem muita coisa. É só clicar em CATÁLOGO para saber as obras que estão disponíveis para consulta.

As fronteiras latino-americanas, contadas pelo cinema

“Até a Vista”, curta-metragem dirigido por Jorge Furtado, levou para casa as estatuetas de melhor filme, roteiro (Furtado), ator (Felipe de Paula) e trilha (Everton Rodrigues) no 16º Cine PE Festival do Audiovisual, realizado semana passada, em Recife.

O filme é uma produção da Casa de Cinema de Porto Alegre, originalmente para o projeto “Fronteras”  – uma série do canal de televisão argentino TNT, apresentada pelo cineasta Juan José Campanella em dezembro do ano passado.

A idéia do projeto é bacana, abordar o tema “fronteiras” pelas mãos de oito diretores latino-americanos, de cinco países, com equipes mistas e rodagens em diversos lugares. Importante: fronteira aqui entendida como limite em diversos sentidos, não apenas físico – entre formas de relacionar-se, de linguagem, dos limites do corpo, do conhecimento e até entre a vida e a morte.

O resultado é super diverso, com obras vão deste o fantástico até a ficção científica, passando pelo drama, suspense e comédia.

Dividido em três partes, cada programa “Frontera” começa com um curta. Em seguida é exibido o making off da produção e, por fim, os cineastas concedem uma entrevista onde revelam a maneira como trabalharam. Sei que os programas passaram no Brasil, mas se alguém, por acaso, não pode acompanhar a série, aviso que quase todos os episódios podem ser vistos no You Tube.

Um ótima oportunidade para aprender espanhol (comparar os diferentes sotaques e gírias), identificar as locações e aceitar as diferenças regionais entre os países “hermanos”.

Aqui, um resumo de cada um dos curtas:

Mal llamado: documentário sobre “Fuerte Apache”

O município de Ciudadela, na província de Buenos Aires, tem um bairro chamado Exército dos Andes. Mas ninguém o conhece por este nome e sim por “FUERTE APACHE”.

Este nome foi cunhado no final dos anos 90, em pleno auge do neoliberalismo, por um jornalista chamado José de Zer, do canal 9. O apelido pegou – como sinônimo de lugar violento e perigoso – e o bairro ficou estigmatizado por isso.

Não que o lugar seja pacífico, é bom que se diga. Mas não é só isso.

Este documentário mostra  como uma invenção da mídia afetou a vida dos moradores do lugar, nem todos delinquentes e perigosos.

“Este es un humilde aporte para revertir el objetivo cultural y mediático del neoliberalismo de excluir más al humilde, quitarle la voz y de hacer creer que en todas las villas miserias solo viven ladrones y narcotraficantes”.

O filme pode ser visto na íntegra abaixo.

http://www.dailymotion.com/embed/video/xnaax6
BARRIO EJERCITO DE LOS ANDES, MAL LLAMADO… por lautaro84

Contacto: Lautaro Di Maio
lautarogula84@gmail.com

Festival de cinema holandês

O Teatro San Martin (meu preferido na cidade) apresenta este fim de semana o Festival de Cinema Holandês em Buenos Aires.

São 11 curtas e 5 longas, em sua maioria inéditos na Argentina, que dão conta da diversidade, qualidade e inovação do cine holandês nos últimos dez anos.

Um dos filmes mais esperados é Simon (2004), dirigido por Eddy Terstall, e ganhador de 7 prêmios internacionais. A película aborda a eutanásia, o matrimonio entre pessoas do mesmo sexo e o consumo de drogas.

Tudoaomesmotempoagora.

Depois do filme, o diretor participa de um debate sobre Morte Digna, em que se discutira sobre a eutanásia com o deputado Jorge Rivas, impulsor de lei sobre o mesmo tema no Congresso.

Só tem caído tema de morte na minha mão!!!

Os filmes serão apresentados até o dia 7, na sala Leopoldo Lugones, com entrada a 12 pesos para o publico geral e 5 pesos para estudantes e aposentados.

Deixo abaixo o trailer de Simon (não encontrei o trailer legendado, nem em inglês) e também de Forever (2006), de Heddy Honigmann, rodado no cemitério parisino de Père Lachaise.

 

 

O diário de uma busca e o mega julgamento da Esma

Celso com a filha (foto de divulgação)

Celso Afonso Gay de Castro morreu aos 41 anos, em Porto Alegre. Exilado pela ditadura militar brasileira, ele percorreu Argentina, Venezuela, Chile e França, sempre carregando consigo sua família. Sua repentina morte jogou por terra o ideal político existente.

Segundo a versão da polícia, Celso e um amigo, Nelson Heredia, invadiram o apartamento de um ex-cônsul do Paraguai, o alemão Rudolf Goldbeck, e teriam se suicidado quando o imóvel foi cercado pelos policiais, em outubro de 1984. Nunca se soube com certeza o que Celso e o amigo foram fazer no apartamento, cujo dono, posteriormente, foi alvo de suspeitas de um passado nazista, nunca devidamente aclaradas.

A história dessa morte misteriosa, bem como a infância no exílio durante ditadura militar, é contada pela filha dele, a diretora Flavia Castro, no documentário “Diário de Uma Busca”, exibido esta semana no DocLisboa, em Portugal.

O filme foi eleito melhor documentário no Festival de Biarritz, melhor filmeem Punta Del Este e também premiado em Gramado e no Rio.

Como não sei se vai passar no circuito comercial, o divulgo para fiquemos todos antenados.
Há um bela entrevista sobre  o filme AQUI. 

Publico esta nota, coincidentemente, num dia muito importante para a Argentina. Hoje, no final da tarde, será anunciada a sentença de uma mega causa imputada por 86 vítimas contra 18 repressores que atuaram, durante a ditadura militar, na Escola de Mecânica da Armada, mais conhecida como ESMA.

Entre eles, Alfredo Astiz, Jorge “El Tigre” Acosta, Ricardo Miguel Cavallo e outros 15 repressores que receberão condenação pela primeira vez.

O tema será abordado no próximo Cartas de Buenos Aires, no Noblat. Enquanto isso, fiquem com o trailer do filme.

Cartas de Baires: Medianeiras, conflito e solidão

Em cada janela também bate um coração

O filme argentino Medianeiras, de Gustavo Taretto, tem feito sucesso por onde passa e aborda “o tema” das grandes cidades, a solidão na era do amor virtual.

A história é contada por Martin, um fóbico buscando readaptar-se ao mundo, e Mariana, recém saída de um relacionamento. Ambos são vizinhos, vivem em Buenos Aires, na mesma rua, na mesma quadra, mas nunca se encontram.

A arquitetura aparece como terceiro protagonista, como vilão e como metáfora de isolamento e falta de comunicação.

Logo no início o personagem masculino diz o seguinte: “estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais de cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, o suicídio, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as contraturas, a inseguridade, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e da construção civil. Destes males, salvo o suicídio, padeço de todos”.

Os dois personagens moram em “monoambientes”, as nossas conhecidas quitinetes, e tomam a decisão de abrir janelas nas paredes laterais de seus apartamentos para ganhar um pouco mais de luz.

Isso, aqui na Argentina, não é permitido. De acordo com o Código Civil, as medianeiras (como são chamadas as paredes cegas que dão para o prédio vizinho) são intocáveis, pelo menos no papel. A justificativa é a garantia da privacidade. Janelas, somente na frente ou para o fundo.

Para cumprir a lei, muitos apartamentos viram grandes poços escuros. Pelo menos até que um morador se rebele e resolva abrir seu buraquinho. E o outro também. E o outro também. Assim a cidade vai ganhando paredões salpicados de pequenas janelas caóticas, cada um de um tamanho e formato.

No filme, as janelas representam uma mudança na situação dos personagens, uma luz. Na vida real não é bem assim. As medianeiras também são fonte de milhares de brigas judiciais.

O tema foi abordado em outro ótimo filme, o Homem ao Lado, de Mariano Cohn. Um vendedor de carros usados resolve abrir uma janela para o lado do vizinho. Só que este próximo vive em uma casa totalmente envidraçada, em La Plata, a única projetada por Le Corbusier na América Latina.

Nesse caso, a medianeira não separava apenas duas pessoas, e sim dois mundos, que entram em conflito ao tomarem consciência um do outros.

Bom tema para os profissionais reunidos este mês para a XIII Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, que poderiam lançar a campanha “Ventana para todos!”.

Uma janela é sempre símbolo de comunicação e se converteria em uma expressão a mais da democracia que os argentinos estão aprendendo a viver.

Leitura indicada: Rodolfo Livingston, Arquitectura y Autoritarismo