Arquitetura e Bike

Descubrindo coisas novas em Puerto Madero

Fim de semana passado fui fazer o passeio Arts in Architecture Tour, oferecido pela Biking Buenos Aires.

Achei super bacana, um jeito diferente de conhecer a cidade, a partir de seus estilos arquitetônicos.

A gente sai de San Telmo, passa por Puerto Madero, pelo Centro, Avenida de Mayo, 9 de julho, Teatro Colon e depois vai voltando por Montserrat.

O passeio custa US$ 45 dólares, dura quatro horas, e inclui uma parada para lanche com empanadas. Por enquanto, é oferecido somente em inglês e espanhol, mas em breve eles terão também um guia em português.

As bicicletas são boas (todas vem com capacete) e, o que eu achei mais legal, eles tem luvas e mantas extras para desavisados que saem a passear de bike no frio sem o abrigo devido. Uma gentileza que não tem preço.

A empresa é tocada por dois americanos, o Will e o Robin, os dois super gente fina. O passeio não é para arquitetos e gente que saca do tema há anos. Por uma motivo simples: não dá tempo! É uma pincelada sobre arquitetura, uma oportunidade de os visitantes entenderem Buenos Aires a partir de um outro ponto de vista e uma isca para a gente ficar animada a conhecer mais sobre o tema.

Recentemente, a Bike Tours fez uma parceria com o Grafittimundo e está oferecendo o tour grafiteiro em bike. Delícia!

Outros passeios deles são: pelo Centro (Heart of the City), pelos parques (Parks & Plaza Signature Tour) e ainda um de todo o dia, por toda a cidade (The Buenos Aires Ultimate City Bicycle Tour). 

Tá tudo lá, no site, bem explicadinho! A se mexer que passa o frio!

Barracas, novo Palermo?

Detalhe de fachada em Calle Lanin

Semana passada a Legislatura portenha aprovou dois projetos para proteger o bairro de Barracas (entre outros) da especulação imobiliária.

Em cerca de 50 quadras não poderão ser construídos prédios de mais de três andares.

Com isso, parece que 13 torres de apartamentos deixarão de ser construídas. Uma vitória da organização Proteger Barracas.

Empresários do setor andam salivando pela região, que há alguns anos vem sendo apontada como novo Palermo, e receberá a sede do governo de Buenos Aires a partir de 2012.

Já há diversos outlets instalados no bairro, especialmente na rua Herrera, e a região também é sede do centro Metroplitano de Diseño, o que já levou certo dinamismo a esta parte sul da cidade.

Até aí tudo bem.

O problema é que os especuladores descobriram que podem colocar a região “de moda”, principalmente porque está perto do centro, da autopista e tem imóveis baratos.

Matéria publicada no caderno M2 deste fim de semana, no jornal Página 12, aponta que uma das vítimas desse avanço da construção civil já é a famosa Pasaje Lanin, conhecida pelas intervenções com azulejos feitas pelo artista plástico Marino Santa Maria, especialmente as casa número 8 e 189 (desta última só resta a fachada). Há um temor de que elas sejam destruídas para dar lugar a novos prédios.

Semana passada aproveitei para fazer uma caminhada na área e realmente está um canteiro de obras. Deixo com vocês um álbum de fotos. Gostei das coisas novas e das velhas. Espero que o crescimento do bairro seja amoroso daqui para frente. Se é que isso é possível.

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Cartas de Baires: Medianeiras, conflito e solidão

Em cada janela também bate um coração

O filme argentino Medianeiras, de Gustavo Taretto, tem feito sucesso por onde passa e aborda “o tema” das grandes cidades, a solidão na era do amor virtual.

A história é contada por Martin, um fóbico buscando readaptar-se ao mundo, e Mariana, recém saída de um relacionamento. Ambos são vizinhos, vivem em Buenos Aires, na mesma rua, na mesma quadra, mas nunca se encontram.

A arquitetura aparece como terceiro protagonista, como vilão e como metáfora de isolamento e falta de comunicação.

Logo no início o personagem masculino diz o seguinte: “estou convencido de que as separações, os divórcios, a violência familiar, o excesso de canais de cabo, a falta de comunicação, a falta de desejo, a apatia, a depressão, o suicídio, as neuroses, os ataques de pânico, a obesidade, as contraturas, a inseguridade, a hipocondria, o estresse e o sedentarismo são responsabilidade dos arquitetos e da construção civil. Destes males, salvo o suicídio, padeço de todos”.

Os dois personagens moram em “monoambientes”, as nossas conhecidas quitinetes, e tomam a decisão de abrir janelas nas paredes laterais de seus apartamentos para ganhar um pouco mais de luz.

Isso, aqui na Argentina, não é permitido. De acordo com o Código Civil, as medianeiras (como são chamadas as paredes cegas que dão para o prédio vizinho) são intocáveis, pelo menos no papel. A justificativa é a garantia da privacidade. Janelas, somente na frente ou para o fundo.

Para cumprir a lei, muitos apartamentos viram grandes poços escuros. Pelo menos até que um morador se rebele e resolva abrir seu buraquinho. E o outro também. E o outro também. Assim a cidade vai ganhando paredões salpicados de pequenas janelas caóticas, cada um de um tamanho e formato.

No filme, as janelas representam uma mudança na situação dos personagens, uma luz. Na vida real não é bem assim. As medianeiras também são fonte de milhares de brigas judiciais.

O tema foi abordado em outro ótimo filme, o Homem ao Lado, de Mariano Cohn. Um vendedor de carros usados resolve abrir uma janela para o lado do vizinho. Só que este próximo vive em uma casa totalmente envidraçada, em La Plata, a única projetada por Le Corbusier na América Latina.

Nesse caso, a medianeira não separava apenas duas pessoas, e sim dois mundos, que entram em conflito ao tomarem consciência um do outros.

Bom tema para os profissionais reunidos este mês para a XIII Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, que poderiam lançar a campanha “Ventana para todos!”.

Uma janela é sempre símbolo de comunicação e se converteria em uma expressão a mais da democracia que os argentinos estão aprendendo a viver.

Leitura indicada: Rodolfo Livingston, Arquitectura y Autoritarismo 

Quando a cidade olhava o rio

Foto Gisele Teixeira

Uma pena que a Cervejaria Munich, na Costanera Sur, não exista mais. Domingo fui visitar o que sobrou desse projeto super bacana e é de dar dó.

O local foi construído em 1927 pelo arquiteto Andrés Kálnay e pelo empresário de origem catalã Ricardo Banús. A idéia era criar um local que evocasse as cervejarias da cidade alemã de Munique. Tentem imaginar o que foi na época, tomar uma Quilmes de frente para o rio com uma orquestra de senhoritas na varanda.

Alguns vestígios ainda estão lá, como os vitrais, as lâmpadas, o piso, as cabeças dos animais que arrematam a pérgola. Ou as fontes de “Neptuno y Náyades” que foram encomendadas pelo ex-presidente Bartolomeu Mitre e que, depois de darem voltas pela cidade, acabaram na cervejaria. O resto é muito triste.

O espaço foi completamente abandonado ao longo do tempo. Em 1979 o prédio foi cedido pelo governo da cidade para uma empresa de telecomunicações e novamente restituído em 2002. Hoje funciona como Centro de Museus de Buenos Aires.

Casa Pueblo

Casa Pueblo

O Uruguay é um país pequeno, mas cheio de segredos.

Recentemente fomos conhecer a casa de verão e atelier do artista plástico uruguaio Carlos Páez Vilaró, de 87 anos, em Punta Ballena, a 15 minutos de Punta Del Este.

 

Vista aérea

Esparramada sobre um penhasco, a casa branca de curvas acentuadas é um completo desbunde em frente ao mar.

Batizada de “Casapueblo” e construída inicialmente pelo próprio artista, levou quatro décadas para ficar pronta.

A inspiração veio do “forneiro”, pássaro que eles dizem ser típico do Uruguai (mas que em bom português é o nosso “joão-de-barro”), que usa o adobe para levantar sua morada.

Em três dos nove andares funciona um museu, que exibe um panorama completa da obra do artista, de pinturas a esculturas e cerâmicas. No restante da área foi instalado o Hotel Casapueblo e o restaurante Las Terrazas. O espaço recebe cerca de 60 mil visitantes por ano.

Foto do artista na casa do Tigre/La Nación

Paez Vilaró foi muito influenciado pelo candombe e pela cultura afro. Viveu no Brasil e em diversos países onde a negritude tem forte presença: Senegal, Libéria, Congo, República Dominicana, Haiti, Camarões, Nigéria…

Para quem não conhece Paez Vilaró, sugiro uma espiada na página do artista, amigo de Brigitte Bardot, Fidel Castro, Vinicius de Moraes, Astor Piazzolla, Salvador Dalí e até de Pablo Picasso. O filho do artista, Carlos Miguel, é um dos sobreviventes do trágico acidente aéreo dos Andes ocorrido em 1972.

O artista tem uma casa também no Tigre, nos moldes da uruguaia, só que menor.

Outras informações AQUI.

El libro de las lágrimas

Teatro Coliseo. Foto de Harry G. Olds

Essa foto faz parte de um livro meio triste, porque composto apenas de imagens de lugares que não existem mais.

Chama-se “Arquitecturas Ausentes. Obras notables demolidas en la ciudad de Buenos Aires”, de Ramón Gutiérrez, Patricia Méndez y Marcelo Kohan.

Dá para dar uma espiada AQUI. O título roubei de uma matéria que saiu no Página 12.

Centro Histórico e Teatro Colon na lista de sítios ameaçados

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O centro histórico de Buenos Aires e o Teatro Colón foram incluídos numa lista de sítios em perigo no mundo. A seleção é feita anualmente pela organização Fundo Mundial para Monumentos (World Monuments Fund, em inglês), que desde 1996 anos faz pressão para proteger os patrimônios históricos que precisam de cuidados.

A lista de 2010 inclui 93 sítios em 47 países. Entre os lugares mais famosos estão o complexo arqueológico de Machu Picchu, no Perú; o tempo da Sagrada Familia, em Barcelona; a rota de Santiago de Compostela, na Espanha e as machiyas, tradicionais casas de Kyoto, no Japão.

Para as incorporações portenhas deste ano, as nominações ocorreram por parte da associação civil Basta de Demoler, no caso do centro, e da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) e da Comissão de Defesa do Teatro Colón, para o teatro. O Colón está fechando há mais de dois anos numa polêmica que não tem fim.

As associações denunciaram a “falta de um modelo adequado de gestão do patrimônio, intervenções estatais em espaços públicos com valor patrimonial insuficientemente estudados e precipidamente executadas, além de priorização de interesses que destroem o patrimônio da cidade”

Foto: http://www.buenos-aires.ws

Lista completa AQUi

Concurso de fotos de arquitetura

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Entre os dias 3 e 12 de outubro será realizada a Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires. Além das tradicionais conferencias com papas no assunto, está previsto a realização de um concurso da “Mejor fotografia de arquitectura”, com patrocínio da Nikon. As inscrições estão abertas até o dia 18 de setembro. Detalhes no site http://www.bienalBA.com